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Viagem ao Japão deixa saldo misto para Michel Temer

Michel Temer durante  encontro com o imperador Akihito. Foto: Beto Barata/PR

Ao embarcar para o Brasil, ontem (19), o presidente Michel Temer encerrou sua visita ao Japão com uma vitória e meia. A batalha da comunicação foi ganha. O presidente foi recebido pelo imperador Akihito e sua gestão foi elogiada publicamente pelo presidente da federação nacional das indústrias, o Keidanren, e pelo primeiro-ministro Shinzo Abe.

Os esforços da embaixada do Brasil em Tóquio fizeram notícias da visita chegar às páginas de grandes jornais como o “Asahi” e o diário econômico “Nikkei” e aos principais sites noticiosos em inglês. A assinatura de um memorando de cooperação na área de infraestrutura, ainda que de pouco efeito prático, garantiu a presença da mídia japonesa, e os Jogos Olímpicos foram citados em todos os discursos –Tóquio será a sede da Olimpíada de 2020.

O Brasil minorou o mal-estar causado por cancelamentos e atrasos da ex-presidente Dilma Rousseff no passado, e Temer encerrou sua viagem com o endosso da terceira maior economia do mundo. Porém,, embora as fotos mostrem um cordial aperto de mãos entre os chefes de governo dos dois países, a portas fechadas a tentativa de restaurar a confiança dos japoneses ficou pela metade. A própria declaração de apoio de Abe à nova política econômica brasileira no discurso após a reunião com Temer teve tom não de elogio, mas de crítica à crise instaurada pela política anterior.

Na reunião de trabalho com o presidente, que ocorreu sem a presença da imprensa, o primeiro-ministro foi bastante direto e duro. As queixas se concentram nos prejuízos bilionários sofridos por empresas japonesas que investiram em projetos do governo petista na indústria naval e em outros setores afetados pela Lava Jato.

A Kawasaki, maior fabricante de navios, trens e outros maquinários pesados do Japão, declarou perdas de R$ 760 milhões com o Estaleiro Enseada, em que tem sociedade com três empreiteiras atingidas pela Lava Jato.

Grandes indústrias que se instalaram no Brasil perderam com a mudança de regras do setor elétrico brasileiro, que encareceu o custo da eletricidade. A crise golpeou também a indústria automotiva, na qual os japoneses investiram US$ 7 bilhões de 2003 a 2006. Ainda que o mercado brasileiro abra o apetite dos japoneses, consideram que, como o governo provocou boa parte dos prejuízos, deveria agora agir para mitigá-los.

Temer e os ministros que vieram apresentar seu plano de concessões em infraestrutura repetiram dezenas de vezes as expressões “segurança jurídica”, “previsibilidade” e “regras de mercado”. Porém, os investidores japoneses responderam, de diversas formas, que hesitam em correr novos riscos até terem certeza de quais serão as regras, e de que não serão quebradas.

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