LUIZ HUMBERTO MONTEIRO PEREIRA
AutoMotrix
Em março de 2020, era grande a expectativa em torno do lançamento nacional do novo Tracker, agora produzido na fábrica da General Motors em São Caetano – a geração anterior era importada do México. Afinal, trata-se da versão utilitário esportivo da bem-sucedida plataforma GEM, desenvolvida na China em parceria com a SAIC e a mesma que originou Onix e Onix Plus, respectivamente, hatch e sedã mais vendidos do Brasil. Porém, outro “visitante” originário da China chegou ao país uma semana antes do lançamento: o novo coronavírus. O alastramento da pandemia atrapalhou os planos não apenas da GM para o Tracker, mas de toda a indústria automotiva.
Apesar do imprevisto, o novato da GM totalizou 49.378 emplacamentos em 2020 e foi o quarto utilitário esportivo mais vendido no país, superado pelos compactos Volkswagen T- Cross e Jeep Renegade e pelo médio Jeep Compass. Manteve a posição em janeiro de 2021, quando vendeu 4.593 unidades. A versão 1.0 turbo LT, a mais barata com câmbio automático, reforça a competitividade do Tracker na briga pela liderança do segmento.
Enquanto as configurações mais caras da nova geração do SUV estrearam o motor de três cilindros 1.2 turbo flex, que atinge 133 cavalos de potência, 21,4 kgfm de torque e trabalha associado a um câmbio automático de seis marchas, o Tracker LT traz sob o capô o mesmo 1.0 tricilíndrico turbo flex de 116 cv e 16,8 kgfm apresentado na linha Onix em 2019. Como no Onix e no Onix Plus, o câmbio de seis marchas do Tracker não conta com borboletas para trocas sequenciais – é necessário recorrer aos botões na alavanca.
A versão LT exibe o visual aerodinâmico e agressivo que caracteriza a linha Tracker, ressaltado pelos vincos em toda a carroceria, especialmente no capô. Na traseira, o aerofólio integrado com o brake light reforça a esportividade e é idêntico ao da versão Premier – de fato, tirando as respectivas denominações cromadas na tampa do porta-malas, as diferenças externas das duas configurações são poucas.
A LT não traz as lanternas com assinatura de LED e os faróis full-LED da versão top de linha, nem as linhas de LED do para-choque com função de seta – na LT, são apenas luzes diurnas. As maçanetas são feitas na cor do carro na LT e cromadas na Premier. As rodas de alumínio da LT têm aro 16 e os pneus, 215/60, enquanto a top de linha adota rodas de 17 polegadas diamantadas e pneus 215/55. O teto solar também fica restrito à Premier.
O SUV compacto da GM vem de série com seis airbags, alarme, assistente de partida em rampa, controles de tração e estabilidade, faróis e lanterna de neblina, luz de condução diurna, regulagem de altura dos faróis, fixação de cadeiras infantis Isofix e Top Tether, maçanetas internas em prata, ar-condicionado, coluna de direção com regulagem de altura e profundidade, computador de bordo, painel de instrumentos com tela de 3,5 polegadas, volante com comandos de som e direção, travas e vidros elétricos. O multimídia MyLink tem tela LCD sensível ao toque de oito polegadas.
Além do câmbio automático de seis marchas com opção de trocas manuais, a versão 1.0 LT acrescenta ao modelo mais básico a grade frontal com detalhes cromados, as carenagens dos espelhos na cor do carro, o rack do teto em prata, a câmera de ré, o piloto automático, a abertura de portas com chave presencial, a partida por botão e o start-stop.
Porém, a LT não oferece alguns requintes da Premier, como sistema de estacionamento automático, alerta de ponto cego, monitoramento de pressão dos pneus, retrovisor fotocrômico, carregador de celular por indução, sistema de alerta de distância do carro à frente e frenagem automática de emergência.
PREÇOS
Os preços do Tracker 1.0 turbo LT partem de R$ 101.190, quase 20% abaixo dos iniciais R$ 126.190 da configuração 1.2 Turbo Premier. É a opção mais acessível com transmissão automática do SUV – abaixo dela, existe apenas a 1.0 turbo com câmbio manual (R$ 92.390).
Como, em termos de aparência, as diferenças em relação à 1.2 Turbo Premier são discretas, provavelmente está aí o grande apelo da versão LT – ter câmbio automático e ser bem mais barata que a top de linha, sem tornar tão explícita a expressiva economia feita na hora da compra. O Tracker 1.0 turbo LT não tem opcionais, mas o preço varia de acordo com a cor. Os R$ 101.190 iniciais valem apenas para a metálica Azul Eclipse, enquanto a sólida Branco Summit (a do modelo avaliado) soma R$ 850 e as outras metálicas disponíveis acrescentam R$ 1.600 à fatura.
Motor é o mesmo do Onix, mas peso ‘extra’ impede repetição do desempenho
Se o propulsor 1.2 turbo de 133 cv e 21,4 kgfm embala o Tracker sem esforço, o 1.0 turbo da versão LT, com seus 116 cv e 16,8 kgfm, já não esbanja tanta exuberância. O câmbio automático de seis marchas até tenta explorar o motor em giros elevados, mas não repete a performance oferecida no Onix 1.0 turbo automático, que leva o mesmo conjunto motor-câmbio.
Essa diferença de desempenho é natural, já que o Tracker pesa expressivos 163 kg a mais – são 1.065 kg no hatch e 1.228 kg do SUV. É o equivalente a levar dois passageiros com 81,5 kg cada – algo que, em um automóvel desse porte, faz diferença em termos dinâmicos.
Porém, se não oferece performance tão arrebatadora, o Tracker LT também não faz feio. Nas arrancadas, o turbo do motor 1.0 mostra seu valor. Mesmo sem injeção direta, que é geralmente mais eficiente, o ponteiro do conta-giros sobe rapidamente e alcança facilmente a faixa entre 3 mil e 4 mil rotações. O conjunto entrega retomadas decentes, permitindo ultrapassagens seguras, e ganha velocidade sem que seja necessário pressionar demais o pedal do acelerador.
Eventualmente, o câmbio automático do Tracker LT parece indeciso em algumas situações. Seria interessante se a transmissão oferecesse um modo Sport, que ajudasse a manter os giros do motor mais elevados. A ausência de borboletas no volante para passagem manual das marchas também limita as possibilidades de uma “tocada” mais esportiva – a mudança das marchas pelo botão na alavanca de câmbio não é intuitiva e sequer prazerosa de se fazer.
O volante é leve nas manobras de estacionamento e torna-se agradavelmente firme em velocidades elevadas. A suspensão é eficiente, mas o acerto rígido transmite aos ocupantes o impacto de buracos um pouco mais fundos. Nas curvas em altas velocidades, a carroceria elevada se inclina, mas nada que comprometa a sensação de segurança. As frenagens são suaves, mesmo quando o pedal é acionado de forma mais brusca, e o sistema start-stop, de série na versão, racionaliza o uso de combustível no tedioso “para e anda” do trânsito urbano.
A BORDO
Não há como entrar no Tracker e não lembrar do Onix. Volante, itens do painel e mostradores analógicos do quadro de instrumentos são semelhantes aos adotados no hatch e no sedã – no SUV, as imagens da tela do computador de bordo são coloridas. A posição de dirigir é correta e o volante oferece ajuste de altura e profundidade. Os bancos dianteiros têm ajustes mecânicos de altura e profundidade.
A central multimídia tem tela de oito polegadas e oferece integração com smartphones por meio do Android Auto e do Apple CarPlay. Na versão 1.0 turbo LT, os bancos têm cobertura em tecido e o acabamento interno tem peças bem encaixadas, mas é dominado por plásticos rígidos. Em padrões mais simples que os da versão Premier, quase tudo é na cor preto “Jet Black”, com uns poucos apliques prateados. O painel tem materiais de boa aparência. Atrás, o espaço para as pernas é generoso para um SUV compacto. Há uma porta USB dianteira e duas traseiras.