
A Ford assinou ontem (19) memorando de intenções com a construtora São José para a venda da fábrica de São Bernardo à empresa especializada em empreendimentos imobiliários logísticos e comerciais de alto padrão. O valor não foi revelado pela montadora. Porém, na última terça-feira, o prefeito Orlando Morando (PSDB) havia adiantado a informação e revelado que o valor do negócio é de R$ 550 milhões.
A Ford informa que a conclusão do processo depende da realização de diligência conjunta, que deve ser completada no prazo de aproximadamente 90 dias.
Morando informou que a construtora vai oferecer parte da área para uma montadora, e no restante do terreno deve ser instalado um centro logístico.
A venda ocorre um ano e quatro meses após a empresa anunciar o fechamento da unidade. O encerramento total da produção ocorreu em outubro do ano passado. A planta empregava 2,7 mil trabalhadores, dos quais 1,7 mil foram demitidos, e produzia o hatch compacto New Fiesta e os caminhões das linhas Cargo e Série F.
Segundo a Ford, o acordo é resultado de processo de seleção que envolveu uma série de potenciais compradores, no qual a São José apresentou a melhor alternativa. A gestora de recursos FRAM Capital atuou na estruturação financeira e nos estudos de viabilidade da operação.
Segundo fontes do mercado, as concorrentes, todas do ramo imobiliário, teriam sido Autonomy, Brookfield, GLP, Prologis e Exeter Property Group. No início das negociações, ainda no ano passado, três montadoras se interessaram pela área – duas chinesas e o grupo brasileiro Caoa, mas não houve acerto.
“A assinatura desse memorando de intenções é um passo importante para a concretização da venda da fábrica”, disse Lyle Watters, presidente da Ford América do Sul. “Avaliamos uma série de alternativas e acredito que chegamos à melhor solução entre as opções disponíveis para atender as necessidades da região e gerar empregos. A São José é uma empresa conceituada, com presença nacional, e tenho certeza de que será importante para São Bernardo.”
ALTO PADRÃO
A construtora São José atua no setor há 37 anos com foco no segmento de alto padrão. A empresa é a mesma que, em 2010, comprou em parceria com a administradora BR Malls terreno de 105 mil metros quadrados em São Bernardo onde funcionava fábrica da Brastemp. Lá, as duas empresas ergueram um shopping (São Bernardo Plaza), inaugurado em novembro de 2012.
Morando afirmou que a prefeitura está disposta a auxiliar e viabilizar a chegada o quanto antes do empreendimento à cidade. O Plano Diretor do município determina que o espaço terá de ser usado para atividades industriais ou de logística. “Desde o anúncio repentino da saída da Ford, nós, da prefeitura, buscamos a preservação dos postos de trabalho. Agora, com esse negócio, acende uma esperança para a geração de empregos.”
Para sindicato, montadora descumpriu acordo
O Sindicato dos Metalúrgicos do ABC solicitou à construtora São José uma reunião com o objetivo de obter informações mais precisas sobre a venda da fábrica da Ford em São Bernardo à empresa do ramo imobiliário.
O sindicato quer conhecer quais são os planos para a área, que a construtura teria adquirido por R$ 550 milhões.
Ontem (19), durante videoconferência com o presidente da Ford para a América do Sul, Lyle Watters, a direção do sindicato recebeu a confirmação de que a montadora está negociando com a construtora.
O sindicato solicitou a reunião com Lyle Watters para esclarecer as informações que vinham sendo divulgadas pela imprensa, sem qualquer informe anterior por parte da montadora à representação dos trabalhadores.
Segundo o sindicato, durante o processo de fechamento da fábrica, anunciada em fevereiro de 2019, a Ford teria se comprometido, na negociação para venda da área, com a premissa de manutenção de um complexo de produção industrial que pudesse oferecer oportunidade de trabalho aos ex-funcionários da unidade. No entanto, na reunião de ontem, a Ford não teria esclarecido à entidade que tipo de negócio a construtora São José vai implementar no terreno, informando apenas que este se concentrará na área de logística e construção.
“Com este posicionamento, a Ford descumpre o que foi acordado com o sindicato e, infelizmente, mancha fortemente a história da empresa no ABC, construída ao longo de muitas décadas. O sindicato continuará defendendo a manutenção do parque fabril e dos empregos, e estará atento, cobrando do poder público o compromisso que a área não se transforme, em hipótese alguma, em um condomínio residencial”, disse em nota o presidente do sindicato, Wagner Santana, o Wagnão.
Segundo a prefeitura, o Plano Diretor do município determina que o terreno terá de ser usado para atividades industriais ou de logística.