
Apesar da melhora progressiva nas vendas, o comércio varejista do ABC já deixou de faturar R$ 1,7 bilhão em decorrência da crise provocada pela pandemia do novo coronavírus. A estimativa foi feita pelo Diário Regional com base em dados da pesquisa mensal realizada pela Federação do Comércio do Estado de São Paulo (FecomercioSP).
De março a junho, o setor faturou R$ 12,1 bilhões nos sete municípios, com queda de 12,2% ante o apurado no mesmo período do ano passado (R$ 13,8 bilhões).
A projeção considera o volume que deixou de ser vendido pelo varejo ampliado – incluindo as atividades de veículos e material de construção – no período que se estende de março, quando a disseminação da covid-19 começou no país, e o final de junho.
O setor registrou em junho o quarto mês consecutivo de queda no faturamento no ABC. Porém, alguns setores já retomaram o ritmo pré-pandemia, turbinados pelo auxílio emergencial pago pelo governo.
Em junho, o varejo dos sete municípios vendeu R$ 3,44 bilhões, montante 1,0% inferior ao apurado no mesmo mês de 2019, segundo a FecomercioSP.
Trata-se do quarto mês seguido de queda nesse tipo de comparação, mas o tombo foi menor do que os registrados em maio (-17,3%), abril (-27,6%) e março (-3,2%).
No acumulado do primeiro semestre, a retração nas vendas no ABC é de 6,4%, para R$ 18,9 bilhões. No mesmo período, o Estado de São Paulo teve queda menor, de 3,3%.
“Isso acontece porque a economia do ABC é bastante dependente dos serviços e da indústria, especialmente a automotiva, que sofreu muito nesta crise e também na de 2015 e 2016, enquanto o Interior do Estado teve o varejo puxado pelo agronegócio, que conseguiu se salvar”, explicou Guilherme Dietze, assessor econômico da FecomercioSP.
A velocidade de retomada do varejo no ABC não é homogênea. Enquanto as lojas de eletrodomésticos e eletrônicos (19,5%), materiais de construção (11,5%) e supermercados (15,6%) tiveram aumento nas vendas na comparação entre junho e o mesmo mês do ano passado, os segmentos de lojas de vestuário, tecidos e calçados (-44,9%) e concessionárias de veículos (-25,6%) sofreram queda na mesma comparação.
“A liberação do auxílio emergencial pelo governo impulsionou a compra de itens essenciais no período. Além disso, o isolamento social e o home office obrigaram as famílias a fazer adequações no domicílio, com a compra de computador e pequenas reformas para possibilitar o trabalho remoto ou a mudança de um parente”, prosseguiu Dietze.
A expectativa da FecomercioSP é de retomada econômica lenta e gradual do varejo, uma vez que as famílias tendem a continuar priorizando os gastos com bens essenciais. Isso porque muitas tiveram a renda diminuída – devido a demissões ou redução de salários – e ainda estão receosas com os impactos da crise no orçamento. Além disso, a preocupação com a saúde, em razão da disseminação do novo coronavírus, limita a circulação nos centros de compras.
A projeção da FecomercioSP para o varejo do ABC é de encerrar o ano com retração ao redor de 9%. A previsão, porém, foi feita antes de o governo anunciar a liberação de mais quatro parcelas de R$ 300 do auxílio emergencial.
“As parcelas adicionais devem compensar as perdas na massa de rendimentos decorrente das demissões e das reduções de salário, o que dá algum alento para as vendas do Natal”, disse Dietze.