
As vendas no varejo brasileiro cresceram 0,6% em novembro de 2019 na comparação com o mês anterior, impulsionadas pela Black Friday. Segundo a Pesquisa Mensal de Comércio, divulgada ontem (15) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), esse foi o sétimo resultado positivo consecutivo do setor, que acumula alta de 1,7% no ano.
O desempenho, porém, ficou abaixo da mediana das expectativas dos analistas de mercado (1,2%, com intervalo entre redução de 0,3% e aumento de 3,0%) ouvidos pela Agência Estado. Contra novembro de 2018, sem ajuste sazonal, houve crescimento de 2,9%.
O mês foi marcado pelas vendas da Black Friday, em meio a uma conjuntura mais favorável ao consumo com inflação baixa, mais pessoas no mercado de trabalho e os saques do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).
Não por acaso, os setores que mais contribuíram para o resultado de novembro foram os mais beneficiados pelo dia de descontos, como Artigos farmacêuticos, de perfumaria e cosméticos (aumento de 4,1% frente a outubro), Outros artigos de uso pessoal e doméstico (1,0%, segmento que reúne brinquedos, óculos, joias, cama, mesa e banho) e Móveis e eletrodomésticos (0,5%).
Isabella Nunes, gerente da pesquisa no IBGE, destacou que as vendas do varejo estão 3,7% abaixo do teto alcançado em outubro de 2014. Essa é a menor distância para o pico de vendas desde que começou a recuperação pós-crise.
“É o melhor patamar desde dezembro de 2016, que foi o vale (ponto mais baixo das vendas)”, apontou Isabella.
ÁGUA NO CHOPE
Porém, o resultado abaixo do esperado – assim como o dos serviços, divulgado no dia anterior – esfriou parte do entusiasmo observado desde a divulgação do Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre (alta de 0,6%), que havia elevado a expectativa para o desempenho econômico nos últimos três meses de 2019.
“É muito cedo para ajustar a expectativa para 2020, mas esses últimos dados, mais fracos, colocam alguma água no chope de dezembro”, comentou Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos.
“Os números vieram um pouco abaixo do esperado, mas o importante é que continuam positivos, o que indica recuperação da economia, embora mais lenta do que imaginávamos”, afirmou Marcel Solimeo, economista da Associação Comercial de São Paulo (ACSP).
Solimeo destacou que, embora tenha ajudado alguns setores, a Black Friday ainda precisa ser mais abrangente para se tornar determinante para o varejo. “O evento tem crescido bastante, embora não tenha grande impacto no movimento geral, já que não inclui veículos, combustíveis e material de construção, por exemplo.”
Isabella, porém, ressaltou que a Black Friday foi decisiva para o desempenho do varejo em novembro. “Sem o evento, o resultado (do varejo) poderia ter sido negativo.”
O mercado financeiro repercutiu a fraqueza do desempenho do varejo. Na contramão de outras moedas emergentes, o dólar subiu 1,30% e fechou cotado a R$ 4,18, maior valor desde 5 de dezembro. O Ibovespa, principal indicador de Bolsa paulista, recuou 1,04%.