
Os funcionários da fábrica da Mercedes-Benz em São Bernardo aprovaram em assembleia online acordo costurado pelo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC com a montadora que visa flexibilizar a mão de obra em meio à pandemia do novo coronavírus. A proposta prevê a suspensão dos contratos de trabalho dos horistas (produção e suporte técnico), a redução da jornada de trabalho dos mensalistas (administrativo) e a retomada da produção a partir de maio.
Dos cerca de 8,5 mil funcionários da unidade, 5.038 votaram na assembleia virtual realizada no último sábado (18). A proposta recebeu o aval de 4.721 trabalhadores e foi recusada por outros 317.
O acordo tem como base a Medida Provisória (MP) 936, que visa preservar empregos durante a pandemia. Atualmente, os trabalhadores estão em férias coletivas, que terão duração até 2 de maio.
Pelo acordo, metade dos cerca de 6 mil trabalhadores da produção retornará ao trabalho no dia 4 de maio – a data, porém, pode ser adiada em uma semana. A outra metade terá os contratos suspensos por dois meses.
Nesse período, a Mercedes vai preservar entre 80% e 100% dos salários líquidos, conforme a faixa de remuneração de cada funcionário. A montadora vai complementar a ajuda emergencial bancada pelo governo, cujo valor corresponde ao seguro-desemprego a que os trabalhadores teriam direito caso fossem demitidos.
Para o funcionário que recebe até R$ 4 mil não haverá alteração. O desconto de 20% valerá apenas para aqueles que ganham acima de R$ 10 mil.
Em julho será feito o rodízio: os trabalhadores que tiverem os contratos suspensos retornarão à produção, enquanto a outra metade ficará em casa por dois meses.
“A montadora prometeu adotar todas as medidas de prevenção e higienização recomendadas pelos órgãos de saúde”, afirmou o secretário-geral do sindicato e integrante do Comitê Sindical de Empresa (CSE) na Mercedes-Benz, Aroaldo Oliveira da Silva.
Outros 2,5 mil trabalhadores de área administrativa terão redução de 25% na jornada de trabalho, com corte nos vencimentos também variando entre zero e 20%, conforme a faixa de remuneração.
Aroaldo revelou também que cerca de 600 trabalhadores temporários da produção com contratos previstos para terminar entre maio e julho terão os vínculos estendidos até 31 de agosto. “Até lá, a situação do mercado estará mais clara e discutiremos novamente com a empresa a situação desses funcionários”, disse Aroaldo.
O acordo também prevê estabilidade no emprego aos funcionários até 31 de dezembro.
O secretário-geral do sindicato disse que, ao justificar a necessidade de um acordo de flexibilização da mão de obra, a Mercedes-Benz alegou que o mercado de veículos pesados deve demorar para retomar o patamar pré-pandemia e que as vendas devem cair consideravelmente neste ano.
Segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), que representa as montadoras, a produção de caminhões caiu 7,7% em março ante fevereiro, para 8,4 mil unidades. Na mesma comparação, as vendas mantiveram-se estáveis em 6,4 mil veículos, mas recuaram 15,3% contra igual mês do ano passado.
General Motors e Toyota também já fecharam acordos similares, mas com volta às atividades prevista para junho.
Ontem, funcionários da fábrica da Volkswagen em São Bernardo também votaram, no site do sindicato, em proposta da empresa de corte de 30% na jornada de trabalho e nos salários, além de novo programa de layoff (suspensão de contratos).
A empresa propõe retomar a produção no dia 18 de maio, com apenas um turno de trabalho. Grupo de 1,2 mil trabalhadores que está em layoff desde janeiro retorna, e outro grupo – em número a ser definido – passa a participar do programa, que tem parte dos salários bancada pelo Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT).