
Em mais um dia de estresse no mercado global por causa dos temores em relação aos efeitos do surto de coronavírus, o dólar resistiu às três intervenções do Banco Central (BC) e fechou em alta de 1,56%, cotado em R$ 4,651. A Bolsa brasileira (B3) também sucumbiu ao mau humor global e caiu 4,65%, para 102.233 pontos, acompanhando o desempenho ruim das bolsas americanas.
As Bolsas caem pelo mundo todo e o dólar se valoriza porque os investidores temem os efeitos causados pelo surto na produção, no consumo e nas viagens, por exemplo. Essa paralisia deve afetar os resultados das empresas.
Nesta quinta-feira (5), o dólar registrou a 12ª alta consecutiva, apesar de o BC injetar US$ 3 bilhões no mercado ao longo do dia. A atuação, no entanto, foi considerada tímida pelos operadores e teve pouco efeito na cotação, que chegou a bater em R$ 4,667. Diante do cenário, o BC anunciou, no fechamento do mercado, novo leilão para hoje, de US$ 2 bilhões.
No mercado, economistas se dizem surpresos com a velocidade da alta do dólar nas últimas semanas. Desde janeiro, a valorização da moeda americana foi de 15,9%, o que dá ao real o pior desempenho numa cesta de 34 moedas. “Não contávamos com essa pressão forte no câmbio”, afirmou o economista da Tendências Consultoria Integrada, Silvio Campos Neto. Para o especialista, há tempestade perfeita que está conduzindo o movimento dos investidores no mundo.
O principal fator que tem ditado o humor do mercado financeiro desde o final de janeiro é a disseminação do coronavírus e temores sobre seus efeitos na economia global, disse o estrategista da RB Investimentos, Gustavo Cruz. Isso levou o Fed, banco central norte-americano, a fazer corte extraordinário nos juros esta semana, o que mexeu com as expectativas do mercado. O Congresso americano aprovou pacote fiscal de US$ 8,3 bilhões para minimizar os efeitos do surto.
PIB
Porém, as notícias locais também têm dado motivo para a forte turbulência dos mercados e contribuído para manter o real desvalorizado. Segundo Campos Neto, o desempenho da moeda também está relacionado ao desempenho da economia, que cresceu apenas 1,1% em 2019. Junta-se a isso o fato de a taxa de juros do país estar no menor patamar da história. “A contrapartida é essa. Hoje não há mais atrativo para o investidor colocar dinheiro aqui.”
Para completar o quadro interno, as reformas necessárias para o crescimento sustentável do país estão estagnadas, disse o economista sênior da XP, Marcos Ross. “Está tudo parado. O reflexo disso é no desempenho da economia”, afirmou.