
A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) acredita que somente em 2025 o setor vai retornar ao patamar de vendas anterior ao da pandemia do novo coronavírus.
A projeção foi feita ontem (6) pelo presidente da entidade, Luiz Carlos Moraes. O executivo explicou que, após a crise ocorrida durante o governo da presidente Dilma Rousseff, o setor automotivo cresceu entre 2017 e 2019 a uma taxa média anual de 11%. Se a recuperação no pós-pandemia tiver o mesmo ritmo a partir de 2021, o patamar de vendas de 2019 (de 2,8 milhões de unidades) levará cinco anos para ser atingido.
Para este ano, a Anfavea projeta vendas de 1,675 milhão de unidades, volume 40% inferior ao do ano passado.
“Isso não é uma recuperação em ‘v’, mas uma recuperação próxima do símbolo da Nike. Essa curva significa perdas de 3,5 milhões de veículos no período, o que seria um cenário muito ruim para a indústria automotiva no Brasil”, afirmou Moraes, durante entrevista coletiva concedida ontem, por videoconferência.
“Trata-se de uma estimativa dramática, mas muito realista com base no prolongamento da pandemia no Brasil e na deterioração da atividade econômica e da renda dos consumidores”, prosseguiu.
EMPREGO
O setor automotivo registrou em junho o fechamento de mil postos de trabalho. Porém, na comparação com o mesmo mês do ano passado, o corte chega a 5 mil vagas.
O presidente da Anfavea disse que o resultado foi puxado pelo fechamento de 400 postos de trabalho na Nissan, mas afirmou que outras montadoras começaram a fazer ajustes diluídos na mão de obra.
“Nós já indicávamos preocupação com o emprego, e esse ajuste começou a ser feito, de forma paulatina”, disse Moraes. O dirigente elogiou a Medida Provisória (MP) 936, que visa preservar postos de trabalho durante a pandemia, mas destacou que se trata de uma ferramenta temporária. “Sem a retomada da atividade econômica teremos dificuldade para manter as operações.”
CAMINHÕES
O setor de caminhões também foi fortemente afetado pela pandemia de covid-19, embora as quedas não tenham sido tão drásticas quanto as dos veículos leves.
Segundo a Anfavea, a produção de caminhões no primeiro semestre (34,8 mil unidades) foi 37,2% inferior à do mesmo período do ano passado. Na mesma comparação, os licenciamentos (37,9 mil) recuaram 19,1%, enquanto as exportações (4,8 mil) caíram 19,2%.
Em junho, as vendas de caminhões cresceram 85,8% ante maio, para 9 mil unidade. Contra junho do ano passado, houve alta de 16,5%.
Para o vice-presidente para veículos pesados da Anfavea, Gustavo Bonini, apesar de o resultado de junho ser positivo, ainda não é possível falar de recuperação, sobretudo ao comparar o acumulado deste ano com igual período de 2019.
Parte do alívio nas vendas de caminhões deve ser creditada aos bons resultados da safra agrícola, que também ajudou o setor de máquinas a não sofrer tanto com os efeitos da pandemia.
Produção de veículos sobe 129% em junho, mas cai à metade no 1º semestre
A retomada das atividades na maioria das montadoras do país após a paralisação decorrente da pandemia de covid-19 fez subir a produção de veículos em junho. No mês passado foram fabricadas 98,7 mil unidades, alta de 129,1% ante o apurado em maio (43,1 mil), mas queda de 57,7% em relação ao desempenho do mesmo mês de 2019 (233,2 mil).
Os dados foram divulgados ontem (6) pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) e consideram carros, comerciais leves, caminhões e ônibus.
“Era um crescimento esperado, porque mais montadoras voltaram a produzir”, afirmou o presidente da Anfavea, Luiz Carlos Moraes, durante entrevista coletiva concedida ontem por meio de videoconferência. Segundo o executivo, apenas duas fábricas ainda não retomaram as atividades, o que deve ocorrer ainda este mês.
Moraes lembrou que o ritmo de produção é lento e que a maioria das montadoras voltou com apenas um turno – refletindo não só as medidas sanitárias adotadas para evitar o contágio pelo novo coronavírus, mas também o ajuste das linhas de montagem para o novo patamar de vendas, tanto internas como exportações.
“Quem adotou dois turnos o fez mais para ampliar o distanciamento entre os funcionários do que para aumentar a produção”, comentou.
Com forte impacto da pandemia de covid-19 nos últimos três meses, a produção de veículos recuou 50,5% no primeiro semestre ante o mesmo período do ano passado, para 730 mil unidades. Trata-se do pior desempenho desde 1998.
Na mesma comparação, as vendas no mercado interno caíram 38,2%, para 809 mil veículos, enquanto as exportações despencaram 46,2%, para 119,5 mil.
Em junho, as vendas somaram 132,8 mil unidades, com alta de 113,6% sobre o total comercializado em maio (62,2 mil), mas queda de 40,5% em comparação ao resultado do mesmo mês do ano passado (223,2 mil).
O presidente da Anfavea destacou que a melhora em relação a maio refletiu a reabertura das concessionárias em centros importantes, como São Paulo, e o “represamento” de veículos vendidos em maio e que só foram licenciados em junho, já que os Departamentos Estaduais de Trânsito (Detrans) estavam fechados.
As exportações, por sua vez, somaram 19,4 mil unidades em junho, volume 397% superior ao embarcado em maio, mas 52% inferior ao enviado no mesmo mês de 2019.
A Anfavea informou ainda que os estoques de veículos nos pátios das montadoras e das concessionárias fecharam junho com 157,6 mil unidades, abaixo das 200,1 mil registradas no final de maio. Ao considerar o ritmo do mercado em junho, o estoque é suficiente para 36 dias de venda. Um mês antes, dava para 45 dias.