Histórias da gente

Robson de Carvalho: “a população LGBTI+ ainda enfrenta desafios diários em relação a direitos como saúde, educação, trabalho…”

Ser uma pessoa trans é não encontrar respostas às suas demandas, principalmente na área da saúde. É ser vítima de preconceitos e violências nos serviços públicos. Como resultado desse cenário, essa parcela da população só procura atendimento em casos extremos.

Em Diadema essa situação começou a mudar com a inauguração do Ambulatório DiaTrans, o primeiro Ambulatório de Saúde Integral da População de Travestis e Transexuais de Diadema e do ABC, localizado no Quarteirão da Saúde (QS).

Outro destaque é o trabalho desenvolvido pela Coordenadoria de Políticas de Cidadania e Diversidades, que entre os objetivos está a elaboração de planos e ações afirmativas de reparação e combate às desigualdades sociais e raciais resultantes do processo histórico de exclusão e discriminação negativa, bem como, promover a ascensão da população LGBTI+ (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais).

Segundo Robson de Carvalho, coordenador de Políticas de Cidadania e Diversidades de Diadema, apesar de ter alcançado um grande espaço de voz na cidade, ao longo dos últimos anos a população LGBTI+ ainda enfrenta desafios diários em relação a direitos como saúde, educação, trabalho, entre outros.

“As pessoas LGBTI+ ainda têm um longo caminho a percorrer, no que diz respeito a uma vida mais justa, igualitária e sem preconceitos. Uma das grandes demandas encontradas é a inserção da população LGBTI+ e em especial a população de mulheres travestis, mulheres e homens trans no mercado de trabalho. É inserir os adolescentes e jovens travestis, transsexuais e transgêneros na escola, na cultura e na saúde, pois muitos enfrentam ainda desafios que vão desde não ter seu nome social respeitado durante a chamada até o dilema de qual banheiro utilizar. O resultado é que raramente concluem os estudos e, frequentemente, são expulsos de casa e excluídos dos seus elos familiares e de amizades”, destaca.

Outra questão levantada por Carvalho é que ainda há muito a fazer para que as políticas públicas para a população LGBT sejam valorizadas e, sobretudo, reivindicadas.
O coordenador cita que um dos grandes avanços em Diadema foi a implementação da Coordenadoria de políticas de Cidadania e Diversidades, que dá espaço e voz para essa comunidade tão esquecida.

“Também não podemos esquecer de falar da inauguração do 1º Ambulatório de Saúde Integral da População de Travestis e Transexuais, o qual realiza atendimento humanizado e respeitoso, inclusive de hormonização, de forma de garantir acesso aos medicamentos e administração segura, bem como promover a saúde integral em conjunto com a atenção básica”, afirma.

O coordenador do Programa Municipal IST/AIDS, Alexandre Yamaçake, corrobora com a declaração de Carvalho. “A inauguração do Ambulatório Trans, para o município, representa um avanço muito grande na questão das políticas públicas, em especial para essa população, que é excluída socialmente. Começamos a ter um olhar equânime para essa população, que sofre estigma e preconceito.”

O diferencial do novo equipamento é o atendimento de forma integral à saúde. “Uma saúde que envolve as questões sociais. Uma saúde que envolve questões psicológicas. Que pensa na saúde como um todo. Não simplesmente ter um Ambulatório Trans para questões de hormonoterapia ou sexuais. Temos o ambulatório pensando na integralidade total da saúde, com as especificidades que não são atendidas no cotidiano. Quando você se denomina transexual, muitas vezes é até barrado na porta de entrada do serviço, porque não existe sensibilidade, capacitação e treinamento adequado”, destaca o coordenador do Programa Municipal IST/AIDS.

Yamaçake: “Começamos a ter um olhar equânime para essa população, que sofre estigma  e preconceito”. Foto: Reprodução Facebook
Yamaçake: “Começamos a ter um olhar equânime para essa população, que sofre estigma e preconceito”. Foto: Reprodução Facebook

Segundo Yamaçake, essa população sofre com duplo estigma: a maioria acha que todas as travestis e transexuais são profissionais do sexo; e que todas são portadoras do vírus HIV. “Então, no ambulatório trabalhamos numa perspectiva igualitária”, afirma.

OFICINAS
A fim de garantir atendimento mais humanizado a esse público são realizadas Oficinas de Sensibilização nos equipamentos de saúde, nas quais são abordados temas como a importância de acolher essa comunidade e respeitar o uso do nome social. “Em nosso município também temos uma lei, a qual conquistamos com a participação do governo, Câmara e movimento social, que prevê parceria para desenvolver a questão da empregabilidade. Capacitamos e certificamos 14 pessoas, a fim de inseri-las no mercado de trabalho, dando clareza do compromisso da nossa gestão e fortalecendo ainda mais que todos podem se inscrever no programa Emprega Diadema”, ressalta.

Segundo Carvalho, essas capacitações com os funcionários sobre questões de diversidade sexual e identidade de gênero são fundamentais. O coordenador afirma que muitas vezes alguns funcionários tomam atitude inapropriada, não por má fé nem preconceito, mas por desconhecimento. “Por isso, é essencial abrir um espaço de formação para que possamos explicar e criar formas de acolhimento de respeito. Não é vergonha, por exemplo, perguntar como a pessoa gostaria de ser tratada. Assim criamos um atendimento digno e respeitoso para essa população que sofre a cada dia com diversos preconceitos, lembramos ainda que o nome social para os LGBT é cidadania e respeito”, afirma.

Carvalho destaca, também, que essas capacitações preparam todos os trabalhadores para prestar atendimento cada vez mais inclusivo e de qualidade à população, além de combater todos os tipos de intolerância e discriminação à população LGBTQIA+.
Nova conquista para esse público, em parceria com o Consorcio Intermunicipal do ABC, é a criação da Ouvidoria LGBT, ferramenta de escuta e ações educativas e punitivas, a fim de evitar a violência contra a comunidade LGBTI+. O órgão recebe manifestações dos cidadãos, analisa, orienta e encaminha o caso para as áreas responsáveis pelo tratamento ou apuração.

MUDANÇAS
Para Carvalho, debater a questão dos direitos e políticas públicas para população LGBTQIA+ implica, necessariamente, em mudanças no que tange aos costumes, moral e padrões sexuais estipulados e enraizados historicamente em nossa sociedade. “Com a negação de cidadania para essa determinada parte da população e os problemas enfrentados cotidianamente, ainda é um desafio muito grande alçar grandes conquistas e mudanças no cenário político e jurídico. Somos iguais às outras pessoas e precisamos de políticas nas áreas de educação, saúde, cultura, emprego e moradia respeitosa, para que as pessoas virem adultos sabendo lidar com a escolha de cada um em relação a sua orientação sexual ou identidade de gênero”, afirma.

Segundo Yamaçake, mudar os conceitos da população em relação ao público trans começa pela educação. “Enquanto não tivermos uma escola inclusiva, que trabalhe com as questões de gênero e sexualidade torna-se difícil (acabar com a discriminação). O que nós, quanto sociedade podemos fazer, é respeitar. Independente de a pessoa ser trans ou não-trans ela precisa de respeito. Essa é uma conversa que precisa ser contínua e deve começar na infância. O respeito é o contexto maior que permite a essas pessoas se tornarem cada vez mais visíveis”, ressalta.

PROJETOS

Robson de Carvalho destaca que mantém diálogo permanente com toda a equipe da prefeitura, a fim de criar projetos respeitosos e de inclusão de toda população LGBTQIA+. “Esse é o diferencial da gestão do prefeito Filippi, pois abre espaço de voz permanente para novos projetos com o intuito de garantir o melhor para a nossa população.

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