
A pandemia do novo coronavírus impactou não apenas a economia e o setor de saúde, como também as eleições deste ano. Além do adiamento do pleito para novembro, a covid-19 provocou mudanças na intenção de votos nos municípios. É o que mostra a 13ª Carta de Conjuntura do Observatório de Políticas Públicas, Empreendedorismo e Conjuntura da Universidade Municipal de São Caetano do Sul (CONJUSCS), divulgada nesta segunda-feira (20).
Segundo Mauricio Mindrisz, autor da nota técnica “Eleições Municipais e o Covid-19”, a postura do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) de minimizar a pandemia, fez com o protagonismo no combate à doença passasse para os governos estaduais e municipais. “Foi o que a grande maioria dos governadores e prefeitos passou a fazer. Fecharam o comercio e outras atividades econômicas, escolas, atividades de cultura e lazer; exigiram a utilização de máscara, garantindo ao menos um menor avanço do coronavírus nos seus estados e municípios. Essa postura contou, sem dúvida, com o apoio da enorme maioria da população, conscientes da gravidade do covid-19, mesmo reconhecendo o impacto econômico das medidas tomadas”, destacou.
Mindrisz afirmou que pesquisas realizadas pelo país apresentam resultados bastante semelhantes: prefeitos em geral melhor avaliados que os governadores; prefeitos e governadores muito melhor avaliados que a ação do governo federal. Isto, mesmo entre aqueles que avaliam no geral positivamente a gestão do presidente (o que tem se mantido no patamar de 30% pelo país), segundo o autor.
“Temos observado em praticamente todos os municípios em que o ABC Dados vem realizando pesquisas, bem como no que tange às outras publicadas na imprensa, importante reversão na intenção de votos nas eleições municipais, com grande avanço da maioria dos atuais prefeitos na corrida eleitoral”, pontuou.
Como exemplo, Mindrisz citou pesquisas do Datafolha, do Ibope e de outros institutos na cidade de São Paulo. Os levantamentos mostravam que Bruno Covas, atual prefeito da Capital, amargava posição secundária na corrida eleitoral meses atrás. “A partir de março-abril, com a publicação de pesquisas que mostravam a liderança de Bruno Covas na intenção de votos, motivado pela avaliação de gestão, seu nome se consolidou como candidato. Essa mudança se explica, sem dúvida, pelo avanço da avaliação das gestões municipais, em função de suas atuações no combate ao coronavírus.”
Em relação ao ABC, Mindrisz afirmou que duas gestões municipais que foram objeto de pesquisa e que meses atrás tinham avaliações de pouco mais de 50% de ótimo e bom, atingiram níveis de 80% de avaliações positivas (ótimo + bom). “Mesmo, sem conhecimento de todo o universo de pesquisas realizadas, arriscamos dizer que, neste momento, a quatro meses das eleições, em municípios em que prefeitos tenham tido uma atuação consciente no combate ao coronavírus, ao menos 80% dos candidatos à reeleição encontram-se em situação superior aos seus adversários na corrida eleitoral”, destacou.
FAVORITOS
A inércia do processo favorece os atuais prefeitos, afirmou o autor na nota, complementando que a dúvida que fica é se esse cenário se manterá nos próximos quatro meses. “Para a reversão desse quadro, as forças de oposição às atuais gestões, se quiserem ganhar as eleições, necessitam com urgência mudar a pauta das discussões, colocando as questões da crise no centro do debate, sem que isto seja associado ao protagonismo dos atuais prefeitos.”
Mindrisz afirmou, ainda, participantes da corrida eleitoral terão que lidar com as questões de saúde, educação, trabalho, moradia e transporte que foram agravadas. “Eleitores, prefeitos e vereadores com o presente e com o futuro, precisam mostrar que são capazes de dar respostas melhores do que as que demos até aqui. O quadro é muito favorável a imensa maioria dos atuais prefeitos. Claro que os atuais prefeitos podem (e devem) sair de suas posições mais confortáveis e buscar também essas novas respostas”, concluiu.