
O setor automotivo deu continuidade, em setembro, à trajetória de recuperação iniciada após o choque provocado pela pandemia de covid-19 e registrou os melhores resultados de produção e vendas deste ano. Com retomada melhor do que a esperada, a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), que representa as montadoras, refez suas projeções para 2020, indicando cenário menos “dramático” que o apresentado em julho, no auge da pandemia, quando previa quedas iguais ou superiores a 40%.
Dados divulgados nesta quarta-feira (7) pela entidade revelam que a produção de carros, comerciais leves, caminhões e ônibus somou 220,2 mil unidades em setembro. O resultado, o melhor em dez meses, foi 4,4% superior ao de agosto, mas 11% inferior ao do mesmo mês de 2019. No acumulado do ano, o recuo é de 41,1%, para 1,33 milhão de unidades.
O mercado interno, por sua vez, fechou o mês passado com 207,7 mil unidades licenciadas, aumento de 13,3% sobre o volume de agosto, mas retração de 11,6% ante o mesmo mês de 2019. No acumulado do ano, a queda é de 32,3%, para 1,37 milhão de veículos vendidos.
Após os resultados obtidos nos últimos meses, a Anfavea agora estima quedas de 35% na produção, de 31% nas vendas e de 34% nas exportações para o encerramento deste ano, contra projeções divulgadas em julho de tombos de 45%, 40% e 53%, respectivamente.
“O dólar ainda está muito alto e volátil, há risco de o país não conseguir controlar seus gastos, mas o nível de confiança aumentou substancialmente, muito em função do auxílio emergencial, que injetou muito dinheiro na economia, juntamente com a MP 936 (de suspensão de contratos de trabalho e redução de jornada). A gente também observa que a Selic caiu ainda mais e a expectativa em relação ao PIB (Produto Interno Bruto) melhorou. Esse novo cenário nos fez reavaliar a situação”, explicou o presidente da Anfavea, Luiz Carlos Moraes, durante entrevista coletiva concedida por videoconferência.
No sentido contrário, o fraco desempenho das exportações tem derrubado a produção. Em setembro foram embarcados 30,5 mil autoveículos, alta de 8,5% sobre o volume enviado em agosto, mas queda de 16,7% ante setembro de 2019. No acumulado do ano, a retração é de 38,6%, para 207,3 mil unidades.
Apesar da melhora nas projeções, Moraes evitou prever quando o setor automotivo vai recuperar os níveis de produção e vendas pré-pandemia. O presidente da Anfavea lembrou que a capacidade técnica das montadoras instaladas no país é de produzir 5 milhões de veículos anuais. Assim, se confirmar a projeção de produção para o ano, de 1,9 milhão de unidades, encerrará 2020 com ociosidade superior a 60%.
“É muito difícil carimbar (a data), mas será uma recuperação longa. É preciso lembrar que a retomada não depende só do Brasil, mas também do mercado externo. Além disso, precisamos ter em mente que a pandemia não está resolvida e que tivemos aumento de custos muito acima do que imaginávamos, com dólar a R$ 5,60 e IGP-M (Índice Geral de Preços-Mercado, indicador inflacionário usado para medir preços no atacado) de 18%, o que deve forçar algumas empresas a repassar custos”, argumentou.
Para o quarto trimestre, a Anfavea espera números similares aos de setembro. “Há sinais positivos, como a redução do número de casos de covid-19, o alto interesse pelo transporte individual e o aquecimento do mercado no fim do ano, mas há riscos como a redução no valor do auxílio emergencial, a queda na renda, a alta do desemprego e da inflação”, disse Moraes.
Entidade prevê mais demissões com ajuste da mão de obra à demanda reduzida
Apesar da recuperação na produção de veículos nos últimos meses, a ociosidade recorde nas fábricas tem levado as montadoras a promover demissões, em um movimento de ajuste que deve ser aprofundado nos próximos meses.
Em setembro, o nível de emprego nas montadoras de autoveículos ficou estável em 103,3 mil pessoas, mas o setor já fechou 4 mil postos de trabalho desde março, quando a pandemia de covid-19 chegou ao Brasil. Recentemente, montadoras como General Motors, Volkswagen e Toyota anunciaram ou adotaram programas de demissão voluntária (PDVs) com o objetivo de ajustar a mão de obra nas fábricas à demanda atual.
“Com o volume de produção na casa de 1,9 milhão de unidades e o planejamento inicial de 3,2 milhões, era inevitável o ajuste na mão de obra”, argumentou o presidente da Anfavea, Luiz Carlos Moraes, ressaltando que os PDVs têm sido acordados previamente com sindicatos de trabalhadores.