LUIZ HUMBERTO MONTEIRO PEREIRA
AutoMotrix
Em março de 2021, quando lançou o Corolla Cross e entrou na briga dos utilitários esportivos médios, a Toyota tinha a expectativa de atingir, no primeiro ano, média de 3.500 unidades mensais vendidas no Brasil. Nos nove meses de comercialização no ano passado, de abril a dezembro, o SUV produzido em Sorocaba (SP) e que utiliza a mesma plataforma TNGA do Corolla sedã emplacou 34.255 unidades, com média de 3.806 por mês.
Neste ano, que começou fraco para todas os fabricantes de carros do Brasil, o modelo teve 2.478 emplacamentos em janeiro. Porém, em fevereiro, o Corolla Cross já retomou o ritmo de vendas e deve voltar à média anterior. Embora os números mensais de emplacamentos não estejam consolidados, entrou na última semana de fevereiro posicionado pela primeira vez entre os dez carros mais vendidos. No primeiro bimestre, o Corolla Cross superou até as vendas do sedã do qual pegou emprestado o nome e que sempre ocupou o posto de Toyota mais vendido do Brasil.
Além do nome, o Corolla Cross herdou o conjunto motor-câmbio do sedã e é oferecido com duas opções de propulsor. As versões híbridas, mais caras, usam o motor 1.8 VVT-i 16V de ciclo Atkinson em conjunto com dois elétricos, com potência combinada de 122 cavalos. As versões mais baratas (e que vendem mais) recebem o motor flex 2.0 16V Dynamic Force de quatro cilindros com comando de válvulas variável inteligente VVT-iE. Gera 177 cv abastecido com etanol e 169 cv com gasolina, ambos a 6.600 rotações por minuto. O torque máximo abastecido com etanol ou gasolina é de 21,4 kgfm a 4.400 rpm. A transmissão das versões flex é a CVT Direct Shift de dez marchas simuladas.
Dentre as configurações com motor flex, a mais equipada é a XRE, com preço de R$ 173.690 (base Brasília) e que funciona como versão intermediária. Abaixo dela, há a versão XR, que começa em R$ 161.990. Acima dela estão as configurações híbridas XRV (R$ 196.390) e XRX (R$ 204.329). As cores disponíveis para o novo SUV são a sólida Branco Polar, a perolizada Branco Lunar e as metálicas Preto Infinito, Prata Lua Nova, Cinza Granito, Azul Netuno e Vermelho Granada (a do XRE testado). Os preços sugeridos divulgados pela Toyota valem só para a cor Branco Polar – as demais elevam a fatura em R$ 2 mil.
Todas as versões do Corolla Cross têm as mesmas dimensões – 4,46 metros de comprimento, 1,82 m de largura, 1,62 m de altura e generosos 2,64 m de distância de entre-eixos. O porta-malas comporta 440 litros sem o rebatimento do banco traseiro.
Em termos de design, é fácil perceber que o Corolla Cross recebeu do sedã apenas o nome. Nenhum detalhe estético do novo utilitário esportivo remete ao três volumes. O caráter robusto é ressaltado pela grade trapezoidal. A parte superior, em formato de colmeia, acomoda a logomarca “Toyota”. A inferior reforça o estilo off-road e abriga os faróis de neblina em LED. Os faróis com DRL (iluminação diurna) têm formato horizontal e partem desde a lateral até encontrar a grade.
Um detalhe que causou certa polêmica na época do lançamento era o cano de escape e o abafador, que ficavam muito aparentes na traseira. Na linha 2023 do Corolla Cross foram pintados em preto fosco para ficar mais discretos.
Os itens de conforto, conveniência, tecnologia e segurança incluem ar-condicionado digital automático com saída para os bancos traseiros, banco do motorista com seis ajustes, direção eletroassistida progressiva, sete airbags, câmera de ré, freio de estacionamento no pedal, retrovisores externos eletro-retráteis com rebatimento automático ao fechar o veículo e pisca integrado.
A lista inclui ainda rack de teto longitudinal e sistema de áudio central multimídia Toyota Play com tela sensível ao toque de oito polegadas, rádio AM/FM, função MP3, entrada USB, Bluetooth e conexão para smartphones e tablets com Android Auto e Apple CarPlay. O sistema de destravamento das portas por sensores na chave (Smart Entry), a partida por botão e o limpador do para-brisa com sensor de chuva também são itens de série na XRE. Todas as versões do Corolla Cross têm rodas de liga leve – na XRE têm 18 polegadas, acabamento na cor cinza escuro e diamantada e pneus 225/50.
Nome próprio
O Corolla Cross é um daqueles SUVs que dá para dirigir como se fosse um sedã. No caso do modelo da Toyota, componentes compartilhados com o sedã Corolla – como o volante, o painel de instrumentos, o multimídia e os bancos – reforçam essa percepção. A posição de dirigir é mais baixa e a própria altura em relação ao solo não é tão elevada para um SUV – são apenas 16,1 centímetros. Nas curvas, a carroceria inclina mais que a de um sedã devido à altura adicional e à calibração da suspensão com foco no conforto, mas não chega a causar incômodo ou insegurança. A direção elétrica ajuda a tornar a relação com o volante bem amistosa.
O conjunto mecânico do Corolla Cross flex não conta com turbocompressor, mas é honesto e entrega desempenho interessante. Recebeu evoluções para maximizar a eficiência, como o sistema D-4S, que combina as injeções direta e indireta para favorecer o desempenho e a economia de combustível.
A transmissão Direct Shift de dez marchas se propõe a dar a suavidade de uma transmissão CVT convencional com a sensação de aceleração direta. Para isso, os engenheiros acoplaram uma engrenagem mecânica que atua na arrancada do veículo, melhorando a aceleração em primeira marcha. De fato, a engrenagem aparentemente confere ímpeto inicial mais resoluto ao SUV.
Ao contrário das versões híbridas, o volante da configuração XRE conta com aletas para trocas de marcha manuais. O modo “Sport” alonga as mudanças virtuais das marcha – nos câmbios CVT, não há troca real de marchas.
O Corolla Cross XRE não agrega a sofisticação tecnológica das versões híbridas, mas é mais barato e mais potente. É um modelo confortável e silencioso, atributos que normalmente se espera encontrar em sedãs. Um detalhe chama a atenção negativamente: o freio de estacionamento por pedal, um tanto anacrônico em tempos em que os rivais no segmento de SUVs médios já oferecem o sistema eletrônico e automático de série.
Equipamentos semiautônomos de segurança como piloto automático adaptativo e alerta de colisão com frenagem automática seriam bem-vindos em um SUV nessa faixa de preço. Todavia, só estão disponíveis nas versões híbridas (e bem mais caras) do Corolla Cross.
A BORDO
No habitáculo da versão XRE com o motor 2.0 flex do Corolla Cross, os elementos ficam dispostos horizontalmente até se conectar às portas, ampliando a sensação de espaço. O console central é sustentado por duas hastes nas extremidades com acabamento na cor prata, mesmo tom adotado nas maçanetas internas das portas e nos difusores de ar no painel. O volante de três raios com controles de áudio e computador de bordo tem revestimento em couro. Os ocupantes contam com porta-copos e porta-objetos nas portas, no console central e no apoio de braços do banco traseiro.
O estilo é conservador, com os plásticos rígidos dominando a maior parte do ambiente. O painel de instrumentos do Corolla Cross XRE têm três mostradores: um circular, no centro, revela os dados do velocímetro e o nível de combustível; um semicircular do lado esquerdo dá as informações do conta-giros e o termômetro do motor para ambas abaixo do semicírculo; do lado direito fica uma tela de TFT de 4,2 polegadas colorida, com os dados do computador de bordo. O isolamento acústico é eficiente e praticamente não se percebem ruídos a bordo.