A economia brasileira terminou 2019 em ritmo mais fraco que o esperado pelos analistas. Após os resultados ruins divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para indústria, comércio e serviços em dezembro, o Banco Central informou ontem que seu Índice de Atividade Econômica (IBC-Br), espécie de prévia do Produto Interno Bruto (PIB), teve queda de 0,27% em dezembro e fechou o ano com alta de 0,89%.
O resultado abaixo do previsto – economistas ouvidos pelo Grupo Estado estimavam crescimento de 1% do IBC-Br em 2019 – desencadeou leva de reduções das projeções para o crescimento do PIB deste ano. O banco Santander, por exemplo, rebaixou sua projeção de alta de 2,3% para 2%, enquanto o banco Barclays reduziu sua estimativa de 2,3% para 2,1%. Levantamento feito com 28 instituições financeiras aponta variação entre 1,7% e 2,5% para o PIB em 2020, com mediana de 2,2%. Em sondagem feita no dia 16 de janeiro, as previsões eram maiores – variação de 1,9% a 2,8%, com mediana de 2,35%.
Para o economista Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central, os resultados da economia no final do ano deixaram certa frustração. Ele destaca que a decepção com os dados se deve, principalmente, à melhora no mercado de trabalho e ao estímulo extra do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). Segundo Schwartsman, o descompasso entre o mercado de trabalho e os dados de produção está aumentando.
“Principalmente a parte de investimento prossegue fraca no geral. Agora, é difícil avaliar o que está por trás disso. A agenda política pode ser uma hipótese. Bate-se cabeça de forma generalizada. Depois da aprovação da Previdência, o governo enviou três PECs (Propostas de Emenda à Constituição), mas não vemos esforço de aceleração disso. O quadro de incerteza política é grande”, disse Schwartsman.
Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, acredita que houve perda do ritmo de crescimento do último trimestre por conta da frustração com o impacto da liberação do FGTS no consumo, mas mantém a projeção de crescimento do PIB para este ano, que já era moderada, de 2%. Segundo Vale, apesar do resultado fraco, quando se avalia o resultado do IBC-Br do quarto trimestre em relação ao mesmo período de 2019, houve melhora. No terceiro trimestre, a taxa de crescimento anual era de 0,7% e subiu para 1,4% no quarto trimestre.
O economista Gesner Oliveira, sócio da GO Associados, é outro que pondera os resultados. Ele lembrou que, no segundo trimestre de 2019, o IBC-Br caiu 0,15% e, no mesmo período, o PIB cresceu 0,4%. “Não excluo a possibilidade de fechar o ano com crescimento acima de 1% do PIB”, disse. Oliveira ressaltou que o IBC-Br tem sido sistematicamente inferior ao que tem saído nas contas nacionais. Por isso, o economista mantém a previsão de crescimento acima de 2%.