O ex-governador do Rio Anthony Garotinho (PR) foi preso preventivamente pela Polícia Federal, ontem (16), sob acusação de comandar esquema de compra de votos na eleição em Campos dos Goytacazes (RJ), sua base eleitoral. De acordo com a Justiça Eleitoral, o ex-governador tentou coagir duas testemunhas do caso e eliminou documentos públicos que ajudariam na apuração dos supostos crimes.
Segundo as investigações, o esquema mais que dobrou o número de beneficiários do Cheque Cidadão, da Prefeitura de Campos, desde junho. O objetivo seria usar para fins eleitorais o programa, que dá R$ 200 a famílias pobres. De acordo com o Ministério Público, 34 candidatos a vereador eram beneficiados pela prática, dos quais 11 eleitos.
Os candidatos de Garotinho passaram a comandar a inscrição de novos beneficiários, segundo a promotoria. Assim, o número de famílias atendidas pelo programa subiu de cerca de 11 mil antes de junho para cerca de 29 mil em outubro, diz a Justiça.
A defesa do ex-governador afirma que a prisão “é abusiva, ilegal e decorre de sua constante denúncia de abusos de maus tratos a pessoas presas ilegalmente naquela comarca”. Garotinho sofreu com pressão alta na cela da Polícia Federal e foi internado no Hospital Municipal Souza Aguiar, no Rio.
A prisão de Garotinho ocorre após uma série de fases das operações “Vale Voto” e “Chequinho”, que prenderam quatro vereadores, uma secretária municipal e a secretária pessoal da prefeita de Campos, Rosinha Garotinho (PR), mulher do ex-governador. Todos já foram soltos.
Garotinho, que ocupa o cargo de secretário municipal de Governo, havia inclusive pedido habeas corpus preventivo para evitar sua prisão. No início do mês, seu subsecretário, Alcimar Ferreira, também foi alvo de mandado de prisão.
O Cheque Cidadão de Campos é idêntico ao criado por Garotinho quando esteve à frente do governo estadual. Na época, o programa também foi alvo de suspeitas de uso eleitoral.
Beneficiários
De acordo com a promotoria, beneficiários do programa municipal passaram a ser inscritos por indicação de candidatos a vereador sem procedimentos obrigatórios, como avaliação de assistentes sociais. O prejuízo, segundo a Justiça, seria de R$ 45 milhões por ano.
Servidores eliminaram, de acordo com a Justiça, documentos que comprovariam as fraudes na inscrição do programa. Arquivos da prefeitura foram apagados e fichas de inscrição, queimadas.
Apesar da eleição de 11 aliados para as 25 cadeiras da Câmara, o candidato à prefeitura apoiado por Garotinho, Dr. Chicão (PR), perdeu no primeiro turno. É a primeira vez desde 1988 que o grupo do ex-governador fica fora do governo estadual ou da Prefeitura de Campos.
O juiz Glaucenir Silva de Oliveira, da 100ª zona eleitoral, afirma que Garotinho “não só está envolvido, mas comanda com ‘mão de ferro’ um verdadeiro esquema de corrupção eleitoral neste município”.