Era madrugada quando os policiais federais estiveram no apartamento do ex-governador do Rio Sérgio Cabral (PMDB), no Leblon, bairro nobre da zona sul, para cumprir mandado de prisão preventiva contra o político, acusado de chefiar esquema de recebimento de propina de empreiteiras em contratos de obras com o Estado. Segundo o Ministério Público Federal, Cabral cobrava, como propina, 5% do valor de obras das empreiteiras Andrade Gutierrez e Carioca.
Essas empresas também teriam dado mesadas que variavam de R$ 200 mil a R$ 500 mil aos envolvidos no esquema, que contava com a participação de Wilson Carlos, coordenador de campanha e secretário de Governo de Cabral, e Hudson Braga, ex-secretário de Obras e ex-coordenador da campanha do atual governador, Luiz Fernando Pezão (PMDB).
Braga ainda cobrava uma taxa de 1% do valor de projetos no âmbito da secretaria que ocupava, apelidada de “taxa de oxigênio”.
A propina também era tratada sob o nome de “compromissos”. De acordo com a Procuradoria, o esquema desviou R$ 224 milhões de obras como a reforma do Maracanã, Comperj, Arco Metropolitano e PAC Favelas, todas com aporte de recursos federais.
O dinheiro seria exigido por Cabral. O relacionamento com as empreiteiras, que incluía a cobrança da propina, era feito pelos secretários, apontados como os operadores administrativos.
Quatro pessoas são apontadas como operadores financeiros do esquema, responsáveis por receber malas de dinheiro e lavá-los em empresas de fachada: Luiz Carlos Bezerra, Carlos Emanuel Miranda, Wagner Jordão e José Orlando Ribeiro.
A lavagem era feita com a emissão de notas fiscais falsas de serviços nunca prestados, a compra de bens e artigos de luxo e doações de campanha ao PMDB do Rio, que teria recebido, segundo as investigações, R$ 2 milhões.
As prisões foram autorizadas por dois juízes federais -Sergio Moro, em Curitiba, e Marcelo Bretas, no Rio. Bretas justificou a ordem de prisão com base na alegação do Ministério Público de que mesmo fora do governo, o grupo continuava a lavar dinheiro.