“Um pequeno passo para o homem; um salto gigantesco para a humanidade.” Assim Neil Armstrong anunciou ao mundo o início de sua histórica caminhada lunar, em 20 de julho de 1969.
Legado tecnológico

m todas as áreas do conhecimento.”


Mas é justamente nesses momentos de desafios extremos que os grandes avanços tecnológicos acontecem, diz o astronauta, engenheiro, aviador e atual ministro de Ciência e Tecnologia brasileiro, Marcos Pontes — o único brasileiro que já foi ao espaço. “A inovação não surge porque a pessoa está se sentindo muito bem e teve uma ótima ideia. Ela surge principalmente quando você tem uma dificuldade que te obriga a usar a criatividade para sair dela”, afirma Pontes, em entrevista ao Jornal da USP. “Eles realmente tiveram que se virar.”

Importante lembrar que a computação era algo ainda primitivo na década de 1960 e a maioria dos cálculos, desenhos e projetos precisavam ser feitos à mão. Computadores do tamanho de uma geladeira tiveram de ser reprojetados para caber (e funcionar com extrema precisão) dentro de um painel de controle, o que exigiu avanços imensos na miniaturização e integração de circuitos eletrônicos, assim como no desenvolvimento de materiais semicondutores e outras tecnologias elementares que hoje estão embutidas (em versões muito mais modernas, é claro) em praticamente todo e qualquer aparelho eletrônico que utilizamos em nossas vidas.

“Os smartphones que as pessoas usam hoje não seriam possíveis sem a Apollo 11”, aponta Arbix, da USP. “Eles tiveram que integrar circuitos de maneira totalmente nova. Isso colocou a produção e design de semicondutores num outro patamar.”

Isso, sem falar nas tecnologias pioneiras de comunicação wireless, desenvolvidas para se comunicar com os astronautas e monitorar sua saúde no espaço. Ou nas técnicas de congelamento e desidratação (liofilização) de alimentos, que precisaram ser desenvolvidas para empacotar suas refeições, amplamente usadas hoje nas indústrias de fármacos e alimentos, aqui na Terra.
Talvez o maior legado seja a própria conquista do espaço, indispensável para o desenvolvimento de todos sistemas mais modernos de telecomunicações, meteorologia, navegação, geolocalização (GPS) e monitoramento da superfície terrestre, entre outros serviços essenciais
ollo.

Um novo desafio: 2024
E o Brasil?

O Brasil, por enquanto, não tem pretenções de colocar nada na Lua; muito menos os pés. O Programa Espacial Brasileiro ainda sofre para se recuperar da tragédia de agosto de 2003, quando um acidente com o foguete VLS (Veículo Lançador de Satélites) matou 21 pessoas no Centro de Lançamento de Alcântara, no Maranhão. O país tem uma parceria de sucesso com a China para a construção de satélites de observação da Terra da classe CBERS, mas pouco para mostrar além disso. Restrições técnicas e orçamentárias limitam significativamente as ambições nacionais no espaço.

“Temos um programa espacial que, infelizmente, é modesto demais para o tamanho do Brasil”, diz o coordenador de gestão científica e tecnológica do INPE, Petrônio Noronha de Souza. “Temos realizações, mas poderíamos entregar muito mais para a sociedade.”

Outros especialistas ouvidos pela reportagem destacaram a necessidade de objetivos claros e mais conectados com as demandas e desafios do País. “O sucesso do programa espacial brasileiro depende de mais recursos e do desenho de uma missão que justifique fazer esses investimentos”, diz o engenheiro e economista Carlos Américo Pacheco, professor da Unicamp e ex-reitor do ITA.

Uma vez que isso esteja resolvido, diz ele, o objetivo é investir na construção de satélites nacionais, voltados para “objetivos nacionais”, sob demanda de outros ministérios. “Vamos ver o que os ministérios precisam e fazer sob demanda esses satélites, com tecnologia nacional e empresas nacionais, para serem lançados do Brasil”, disse Pontes ao Jornal da USP.
Reportagem Especial: Jornal da USP