
O setor automotivo brasileiro voltou a registrar, em agosto, recuperação na produção de veículos após o tombo provocado pela pandemia de covid-19. Porém, a ociosidade recorde e o excesso de mão de obra nas fábricas têm levado as montadoras a promover demissões, em um movimento de ajuste que deve ser aprofundado nos próximos meses.
Desde março, quando a pandemia chegou ao Brasil, as montadoras fecharam quase 4 mil vagas, segundo balanço divulgado ontem (4) pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Somente em agosto, o setor perdeu mais de 700 postos de trabalho, apesar de a produção ter registrado, no mesmo mês, o melhor desempenho desde o início da crise sanitária.
“As demissões verificadas até agora decorrem do término de contratos temporários de trabalho e de programas de demissão voluntária abertos neste período. Todas as montadoras estão tentando proteger os empregos em função da qualidade da mão de obra do setor, mas é inevitável haver novas demissões. É visível o excesso de pessoal”, afirmou o presidente da Anfavea, Luiz Carlos Moraes, durante entrevista coletiva concedida para divulgar os resultados do setor em agosto.
No mês passado, as montadoras empregavam 103,3 mil pessoas, total 4,8% menor que o do mesmo mês de 2019.
Os cortes devem se intensificar no último quadrimestre deste ano, devido ao encerramento das medidas de flexibilização trabalhista adotadas por meio da medida provisória (MP) 936, que permite a suspensão dos contratos de trabalho e a redução da jornada com corte nos salários e reposição de parte do valor paga pelo governo.
A Volkswagen, por exemplo, iniciou negociações com os sindicatos de metalúrgicos para demitir 5.250 de seus 15 mil funcionários das quatro fábricas instaladas no país, em São Bernardo, São Carlos (SP), Taubaté (SP) e São José dos Pinhais (PR).
A General Motors, por sua vez, abriu PDV na fábrica de São Caetano que previa até mesmo a oferta de um Onix Joy zero-quilômetro (R$ 56 mil) aos trabalhadores que aderissem.
PRODUÇÃO CRESCE
Ainda segundo a Anfavea, a produção de carros, comerciais leves, caminhões e ônibus cresceu 24,6% em agosto em relação a julho, para 210 mil unidades. Na mesma comparação, os licenciamentos (183,4 mil) aumentaram 5,1%, enquanto as exportações (28,1 mil) caíram 3,4%.
Porém, quando confrontados com os volumes de agosto do ano passado, produção, vendas e exportações tiveram quedas superiores a 20%, indicando longo caminho de recuperação até os níveis pré-pandemia.
No acumulado dos primeiros oito meses, a comparação é ainda mais desfavorável. Os licenciamentos (1,17 milhão) recuaram 35%, as exportações (176,7 mil) encolheram 41,3% e a produção (1,11 milhão) despencou 44,8%, repetindo volumes similares aos de quase 20 anos atrás. “É como se perdêssemos três meses de vendas internas e quase quatro meses de produção”, relatou Moraes.