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Líder sem-teto é detido em ação de despejo em São Paulo

Moradores tentaram barrar os policiais, que jogaram bombas de gás lacrimogêneo. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

O coordenador do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), Guilherme Boulos, foi detido nesta terça-feira (17), durante a reintegração de posse de um terreno particular em São Mateus, na zona leste de São Paulo.

A área, chamada de Colonial, era ocupada por 700 famílias. Durante a operação de despejo, realizada por ordem judicial, moradores tentaram barrar os policiais, que jogaram bombas de gás lacrimogêneo e gás de pimenta.

Inicialmente, a Polícia Militar informou que Boulos, também colunista da Folha, havia sido detido por desobediência e incitação à violência. Depois, em nota, a Secretaria de Segurança Pública atribuiu a ele ainda a participação em ataque com rojão contra policiais.

Nove horas depois, Boulos foi liberado e indiciado por resistência, que pode levar a detenção de dois meses a dois anos. O Código Penal caracteriza o crime como “opor-se à execução de ato legal, mediante violência ou ameaça a funcionário competente para executá-lo ou a quem lhe esteja prestando auxílio”.

No boletim de ocorrência, a Polícia Civil citou a teoria do domínio do fato, também usada no julgamento do mensalão, para responsabilizar Boulos. O boletim diz que, mesmo não sendo líder da ocupação, ele poderia ter ao menos monitorado a ação dos moradores, por ter representatividade entre eles.

Afirma ainda que, segundo o responsável pela ocorrência, Boulos orquestrava a ação, se comunicando com os manifestantes envolvidos no confronto.

O boletim registra que a ocupação do terreno não é ligada a Boulos. Ele diz foi ao local para tentar uma solução negociada e pacífica entre moradores e a polícia. Ele classificou sua detenção como política e disse que o agente que o prendeu citou como um dos motivos um protesto anterior, diante da casa do presidente Michel Temer (leia entrevista ao lado).

O CONFLITO

Durante a ação da PM, moradores do terreno colocaram barricada em uma via para tentar impedir a reintegração. Os agentes, por sua vez,lançaram bombas de gás lacrimogêneo e gás de pimenta. Às 9h40, a PM informou que as famílias haviam se dispersado e já era realizada a retirada do móveis.

Vídeos feitos do momento na prisão mostram Boulos conversando com policiais e depois entrando, sem algemas, no carro da PM.
Ele foi levado ao 49º DP (São Mateus), onde foi ouvido e liberado por volta das 19h30 após a assinatura de um termo circunstanciado, registro de atos de menor potencial ofensivo.

Ao sair, criticou a Secretaria da Segurança e o titular da pasta, Mágino Barbosa. “Soltaram uma nota dizendo que eu teria atirado rojões em policiais. O secretário vai ter que se explicar por que até os policiais que me prenderam não colocaram no depoimento que eu teria atirado rojões.”

Procurada, a secretaria não havia respondido sobre as declarações até a conclusão desta edição.

A detenção de Boulos ocorreu após ele ser criticado pelo secretário estadual de Habitação do governo Geraldo Alckmin (PSDB). Em entrevista à Folha nesta semana, Rodrigo Garcia (DEM) afirmou que o líder foi favorecido na gestão Fernando Haddad (PT), com moradia em áreas invadidas pelo movimento.

Os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rouseff (PT) criticaram a prisão. O prefeito João Doria (PSDB) disse que a PM agiu certo ao cumprir ordem judicial e que o caso não tem relação com a prefeitura ou o Estado.

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