Um ano após a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) anunciar medidas para reduzir o custo do cheque especial para o brasileiro, a taxa de juros desta modalidade de crédito segue em alta. Dados divulgados, ontem (26), pelo Banco Central mostram que, em junho, o juro médio do cheque especial estava de 322,2% ao ano. No mesmo mês de 2018, antes de as medidas serem implementadas, a taxa estava em 304,9%.
Desde julho do ano passado, os bancos oferecem parcelamento para quem tem dívidas no cheque especial. A opção vale para débitos superiores a R$ 200, desde que o cliente tenha utilizado mais de 15% do limite do cheque especial durante 30 dias seguidos.
Na época, a Febraban defendeu a migração para linhas mais baratas como forma de acelerar a tendência de queda do juro cobrado no cheque especial, o que não ocorreu. Ao contrário, houve alta de 17,3 pontos porcentuais do juro médio da modalidade no período de um ano.
Na prática, uma dívida de R$ 5 mil no cheque especial transforma-se, em um mês, em um compromisso de R$ 5.640, considerando o juro médio de 322,2% ao ano. Essa é a linha de crédito mais cara do mercado.
O custo do cheque especial equivale a 14 vezes o juro do crédito consignado, uma das modalidades mais baratas do mercado. Em junho, o juro médio do consignado esteve em 22,8% ao ano. Para os servidores públicos, a taxa é ainda menor, de 20,8% ao ano.
“O crédito consignado se destina a financiar a expansão de consumo das famílias, enquanto o cheque especial se propõe a financiar alguma emergência”, comentou o chefe do Departamento de Estatísticas do Banco Central, Fernando Rocha. “O cheque especial é uma modalidade a ser evitada. Os custos são muito elevados.”
A Febraban reconheceu que, no período, a taxa do cheque especial teve elevação. Em um levantamento feito com 12 bancos, “que representam cerca de 90% do mercado brasileiro do produto”, a Febraban informou que os juros do cheque especial “subiram de 12,2% ao mês para 12,46% ao mês” (298,03% ao ano para 309,24% ao ano).
Entre as modalidades mais caras, também merece destaque o rotativo do cartão de crédito. No caso do rotativo regular – que considera operações em que houve o pagamento mínimo da fatura –, o juro médio atingiu 277,2% ao ano em junho, conforme os números do BC. Um ano antes, em junho de 2018, a taxa estava em 261,1% ao ano.
Apesar dos custos proibitivos, o BC mostrou que, na passagem entre maio e junho, houve alta de 0,4% no saldo das operações de crédito no país, para R$ 3,3 trilhões.
CALOTE
A inadimplência do crédito, considerados atrasos acima de 90 dias, ficou estável em 4,8% para pessoas físicas entre maio e junho. No caso das pessoas jurídicas, o indicador ficou em 2,6 %, com queda de 0,1 ponto percentual.
Os dados referem-se ao crédito livre, no qual os bancos têm autonomia para emprestar o dinheiro captado no mercado e definir as taxas de juros cobradas dos clientes. (AE/ABr)