
Horas depois de reaparecer e se dizer inocente em relação às denúncias de abuso sexual, João Teixeira de Faria, o líder espiritual João de Deus, teve a prisão preventiva solicitada pela Promotoria de Justiça de Goiás. A medida foi tomada cinco dias depois da divulgação dos primeiros relatos de mulheres que dizem ter sido agredidas pelo médium, que atrai mensalmente cerca de 10 mil fiéis – 40% estrangeiros – para Abadiânia (GO).
Até a quarta-feira (12), 258 mulheres em todo o país haviam procurado o Ministério Público para denunciar supostos abusos. O aparecimento de casos ganhou força depois da divulgação pela TV Globo de depoimentos a respeito, no programa Conversa com Bial. Os relatos são muito semelhantes: seja na forma como o médium teria atraído as vítimas, seja nas formas de abuso.
O advogado de João de Deus, Alberto Zacharias Toron, afirmou no início da noite que ainda não havia sido oficialmente informado sobre o pedido de prisão, que chamou de descabido e informou que, assim que for notificado oficialmente, tomará providências.
O gerenciador de crise Mário Rosa foi chamado para auxiliar João de Deus. Ao voltar a Abadiânia nesta quarta, o líder espiritual estava visivelmente abatido. Trajando uma camiseta branca e calça jeans, ficou menos de 10 minutos na Casa Dom Inácio de Loyola, onde atende os fiéis.
Cercado por funcionários da casa e voluntários, ele não falou com a imprensa. Fez um pronunciamento rápido para poucos fiéis, disse ser inocente e estar a disposição da Justiça. A rápida visita foi marcada por tumulto, gritaria e aplausos. Fiéis, ao ver o líder espiritual reaparecendo na Casa, aplaudiram. Funcionários, por sua vez, tentavam impedir que João de Deus parasse para conversar com jornalistas.
O centro ficou bem mais vazio do que de costume. Ali estavam reunidas cerca de 400 pessoas, um terço do movimento habitual. Chico Lobo, um dos funcionários da Casa destacou caravanas de São Paulo, Rio Grande do Sul e Minas e alegou o impacto da proximidade das festas. “Nesta época, tradicionalmente o movimento cai.”
RELATOS
Em entrevista ao jornal O Estado, de S. Paulo o coordenador do Centro de Apoio Operacional Criminal, Luciano Miranda Meireles, disse estar impressionado com o relato das vítimas e afirmou não ter dúvida de que, uma vez formalizadas as denúncias, o caso João de Deus tem potencial para superar o do ex-médico Roger Abdelmassih, condenado por abusar sexualmente de suas pacientes.
Nos casos de abusos sexuais, afirmou Meireles, as denúncias podem ter base apenas nos relatos das vítimas. “Porém, vamos ouvir grande número de pessoas, para ver se as informações são conflitantes ou se encaixam.”