
Boa parte da indústria do ABC parou ou reduziu consideravelmente a produção com o objetivo de conter o avanço do novo coronavírus. Porém, determinados segmentos, especialmente os de produtos essenciais, estão a todo vapor.
É o caso, por exemplo, da Maximu’s, de Ribeirão Pires, que desenvolve e produz embalagens especiais para vários setores. A empresa tem no ramo automotivo a maior parte de sua demanda, mas o perfil da clientela mudou desde o início da pandemia de Covid-19.
Segundo o gerente Marcio Grazino, as encomendas de embalagens para equipamentos hospitalares, que representavam 5% das vendas, saltaram para 50% durante a pandemia. “Fomos contatados pelos clientes, que sugeriram o uso total de nossa capacidade instalada para o atendimento a essas demandas, já que o setor automotivo está parado”, disse Grazino, ressaltando que a produção para atender aos pedidos deve se estender até junho.
A Maximu’s adotou uma série de medidas para garantir a segurança de seus 40 funcionários. O setor administrativo está em home office, e trabalhadores com mais de 60 anos ganharam férias coletivas.
Além disso, as máquinas foram dispostas com espaçamento de dois metros, assim como as mesas do refeitório. “Há rodízio no uso do restaurante, e os trabalhadores do recebimento e da expedição ganharam máscaras”, afirmou Grazino.
A Unipar, de Santo André, aumentou em 15% a produção de hipoclorito de sódio e cloro, usados na fabricação de higienizantes e no tratamento de água, esgoto e efluentes. Entre os clientes da empresa figuram grandes companhias do setor de saneamento, como a Sabesp.
A planta andreense emprega cerca de 500 trabalhadores. “Com o objetivo de garantir o fornecimento de insumos essenciais, a Unipar estabeleceu iniciativas para manter a operação das fábricas em ritmo normal, similar ao praticado antes dos efeitos do coronavírus”, afirmou o diretor-presidente da Unipar, Mauricio Russomanno.
Entre as medidas adotadas pela empresa para intensificar a segurança sanitária figuram a medição da temperatura de todas as pessoas que acessam a fábrica; o reforço na esterilização de talheres, pratos e mesas nos refeitórios; a proibição de reuniões presenciais e a adoção do home office.
A empresa também implementou máquinas e impressão de QR Code para aposentar o uso das canetas durante a identificação de fornecedores na recepção das fabricas.
Por outro lado, indústrias mais dependentes do varejo, como as do setor de materiais para construção, enfrentam dificuldades para fazer frente à quarentena no comércio decretada no Estado de São Paulo.
É o caso da Alumbra, que produz materiais elétricos em São Bernardo. A empresa fechou acordo com o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC para a concessão a férias coletivas de 15 dias a seus funcionários.
“Dependemos muito do comércio de materiais elétricos e de construção, que estão com as portas fechadas, e da construção civil, que reduziu o ritmo. Produzimos algum estoque e, agora, vamos parar por duas semanas”, afirmou o diretor da Alumbra, Cláudio Barberini Junior, que também é diretor-titular do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) em São Bernardo.
AUTOMOTIVO
No segmento automotivo, todas as montadoras com fábricas no ABC anunciaram a interrupção da produção. O foco está na segurança dos funcionários, mas a decisão é explicada também pela queda na demanda, já que as concessionárias estão fechadas.
Barberini demonstrou preocupação com os fabricantes de autopeças, que não têm a mesma condição das montadoras para flexibilizar a mão de obra. “Algumas empresas têm condições de conceder férias coletivas, mas a maioria não têm o mesmo fôlego financeiro e vai começar a demitir. Para piorar, no momento em que o crédito poderia ser uma saída, os grandes bancos têm aumentado os juros”, comentou.
O Sindicato dos Metalúrgicos do ABC deu prazo até o próximo dia 30 para as empresas de sua base (São Bernardo, Diadema, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra) suspenderem a produção. Do contrário, seus dirigentes prometem ir às portas das fábricas.
Ciesp São Bernardo vai pedir à prefeitura o adiamento de impostos e taxas municipais
O diretor-titular do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) em São Bernardo, Cláudio Barberini Junior, afirmou ontem (27) que a entidade pretende encaminhar documento à prefeitura no qual vai solicitar o diferimento de impostos e taxas municipais devido aos impactos econômicos da pandemia de Covid-19 sobre o setor produtivo.
“Lentamente, os governos do Estado e federal vem soltando algumas medidas para socorrer os trabalhadores e o empresariado – ainda de forma muito atrapalhada, é verdade. Precisamos que a prefeitura faça o mesmo e pestergue o pagamento de impostos municipais, taxas e licenças. A situação é preocupante porque a gente não sabe quanto tempo a quarentena no comércio vai durar”, afirmou Barberini Junior.
O diretor-titular do Ciesp São Bernardo espera obter o apoio de outras entidades para o documento, como a Associação Comercial e Industrial da cidade (Acisbec) e a Associação de Construtores, Imobiliárias e Administradoras do ABC (ACIGABC).
“É preciso que as medidas cheguem imediatamente às empresas. Não dá para esperar um mês. Não dará tempo”, disse Barberini Junior.
Ontem, o governo federal anunciou que os bancos vão oferecer linha de crédito subsidiada para que as empresas de menor porte arquem com a folha de pagamento de seus os funcionários.