A maior cautela das famílias na obtenção de crédito, decorrente da capacidade de endividamento ainda limitada pelo fraco crescimento da renda, inibiu o avanço do calote no ABC no ano passado.
O número de negativações – ou seja, de novos registros de dívidas vencidas e não pagas – caiu 3,3% em 2019 na região, segundo indicador do birô de crédito Boa Vista, divulgado na semana passada.
Os dados referem-se a seis dos sete municípios – não incluem Rio Grande da Serra – e sugerem que há menos gente entrando nos registros de inadimplência. “O consumo vem crescendo pouco, o que gera menos endividamento e, por consequência, menos inadimplência. É muito mais (resultado de) cautela por parte do consumidor do que melhora da situação financeira”, comentou o economista Flavio Calife, do Boa Vista.
Para corroborar sua tese, Calife destacou que o número de consumidores que limparam seu nome no ano passado – e que, por isso, foram excluídos dos registros de inadimplência – caiu 0,8%.
Os números sugerem que, se tem mantido em dia o pagamento de suas contas, o consumidor não tem conseguido quitar débitos antigos e sair do cadastro de inadimplentes.
“Se o consumidor estivesse em melhor situação, também estaria recuperando mais crédito, mas não é o que acontece. Em nossa avaliação, os dados indicam muito mais a redução da atividade econômica”, prosseguiu Calife.
O emprego é, pelo lado do consumidor, a variável de maior impacto na inadimplência. Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério da Economia, revelam que o ABC gerou 4,8 mil vagas com carteira assinada em 2019, segundo ano consecutivo de aumento no estoque de vagas formais.
A indústria, porém, fechou quase 5 mil postos de trabalho sob impacto, principalmente, da crise na Argentina e do fechamento da fábrica da Ford em São Bernardo. O setor é o que paga os maiores salários. “Certamente haverá impacto na atividade econômica e perda na massa de rendimentos, o que pode se refletir nos indicadores de inadimplência nos próximos meses”, projetou Calife.
AUMENTO
Para 2020, o economista entende que a maior oferta de crédito e a recuperação do emprego e da renda, ainda que em ritmo lento, tendem a aumentar o calote, ao mesmo tempo em que devem levar mais gente a quitar débitos antigos e, com isso, sair do cadastro de inadimplentes. “Em última instância, o estoque de dívidas em atraso deve ser manter estável”, projetou Calife.