
O Ibovespa não teve forças para se desvincular do sentimento de aversão ao risco e caminhou na sessão de ontem (26) pari passu com seus pares internacionais, temerosos com os efeitos danosos de uma segunda onda de covid-19 em meio à corrida eleitoral nos Estados Unidos – onde o democrata Joe Biden avança sobre Donald Trump – e com eventuais ameaças ao cumprimento do acordo comercial sino-americano.
O principal índice da B3 voltou à marca dos 93 mil pontos, que não era visitada desde 16 de junho. Ao amargar perdas de 2,24% ontem, aos 93.834,49 pontos, acumulou queda na semana de 2,83%. Porém, como a primeira quinzena do mês foi muito favorável ao mercado acionário, ainda há gordura de ganhos de 7,36%.
O dólar subiu e fechou a sexta-feira com a maior cotação em um mês, a R$ 5,4604. A moeda americana subiu de forma generalizada nos emergentes, com o real novamente ficando com o pior desempenho. As mesas de câmbio também monitoraram o noticiário político doméstico e a nova troca de ameaças entre China e Estados Unidos. Na semana, o dólar acumulou valorização de 2,68%, a terceira semana seguida de ganhos.
No pior momento do dia, no final da manhã, o dólar encostou em R$ 5,50, levando o Banco Central a fazer leilão à vista, vendendo US$ 502 milhões. Foi a primeira operação do tipo desde 1º de junho.
O Ibovespa abriu perto dos 96 mil pontos, mas as perdas por aqui avançaram com o passar do dia. A maior piora ocorreu na etapa vespertina da sessão de negócios, quando os pares em Nova York aceleraram as perdas. Com Dow Jones caindo perto dos 3%, o índice à vista do mercado acionário brasileiro sucumbiu para as mínimas no nível dos 93 mil pontos.
“A bolsa brasileira está acompanhando o movimento do exterior, com a piora do humor pautada pela volta do aumento no número de casos de Covid-19. Como essa pandemia envolve muitas incertezas, o mercado mantém a volatilidade e realiza no fato, ou seja, quando vê a segunda onda da doença acontecer”, disse Carlos Lopes, economista do banco BV.
Para Lopes, do ponto de vista doméstico, pesa também a reserva por parte dos investidores com relação ao aumento das despesas do governo e possível necessidade de flexibilização do teto de gastos para acomodar a ajuda governamental durante a pandemia.
A empresa de consultoria Capital Economics indicou ontem que a crescente tensão entre Estados Unidos e China e a vantagem do candidato democrata Joe Biden sobre o presidente republicano Donald Trump, nas últimas pesquisas de intenção de voto para a Casa Branca, prejudicarão o acordo comercial “fase 1” sino-americano.
“Duvidamos que o acordo comercial ‘fase 1’ continue intacto até as eleições de novembro nos Estados Unidos”, afirma a consultoria.