
“Eu sei bastante sobre essas lendas, presto muita atenção nas aulas”, afirma a menina, orgulhosa. Depois de aprender sobre a história que envolve o Maculelê, outra coisa que a estudante gosta muito de fazer é dançar o Maculelê com sua amiga de sala, Letícia da Silva Moraes, de 11 anos.
Letícia é outra apaixonada pela dança e pelas aulas do Dandara e Piatã. E ela sabe muito bem porque é importante valorizar as culturas negra e indígena na escola. “Tem muitas pessoas racistas e com o Dandara e Piatã a gente consegue aprender sobre essas culturas. Eu acho que é muito importante saber mais da história africana, indígena. E saber que todo mundo é igual”, finaliza.
O programa, implementado desde 2022 na rede de Diadema, tem o objetivo de valorizar histórias e culturas historicamente invisibilizadas, utilizando, por exemplo, os jogos Mancala Awelé e o Jogo da Onça como caminho de vivência curricular. Além dos jogos, o programa utiliza brincadeiras, leituras e atividades culturais, o que ajuda a engajar os estudantes.
Katia Maciel, professora do Dandara e Piatã que dá aula na Emeb onde Leticia estuda, explica qual o enfoque do programa: “O nosso papel com as crianças é apresentar, por um olhar menos europeu, como foi o processo de constituição do país, focado na valorização das culturas africana, indígena, raízes da história brasileira”.
Katia explica que os professores que fazem parte do Dandara e Piatã são selecionados entre os docentes da rede. “Nós passamos por um processo seletivo, que envolve prova, dinâmicas e entrevista. Trabalhamos de segunda a quinta nas escolas e na sexta temos formação na Secretaria de Educação”, explica.
De acordo com a professora, o programa Dandara e Piatã, que cumpre de forma tão ampla as leis federais relacionadas à um formação da verdadeira história brasileira, é um diferencial da cidade, em relação aos municípios brasileiros que ainda não organizaram um verdadeiro currículo, com carga horária e professores especialistas: “Diadema está anos luz à frente nesse quesito por ter um programa como esse e que está presente em toda a sua rede.”
“Eu me encontrei como ser humano primeiro na educação, que me fez entender que eu era uma pessoa, que tinha direitos, que poderia sonhar e realizar meus sonhos. E estar no Dandara, hoje, é um pertencimento que não tem medida porque estamos com os nossos, aprendendo sobre nós, tendo voz e tendo vez”, finaliza.
Além de atender diretamente 11 mil crianças do Ensino Fundamental da rede pública com o programa Dandara e Piatã, Diadema tem um Núcleo dos Estudos e Relações Étnico Raciais, o NERER, que congrega os profissionais da educação, a Coordenadoria da Igualdade Racial e lideranças do movimento negro. Em diálogo constante, o Nerer ajuda na discussão e preparação de formações com coordenadores e professores de outros 8 mil estudantes da Educação Infantil, 8 mil da creche e 1,8 mil da EJA.
Como forma de apoiar as atividades pedagógicas desenvolvidas nas escolas, faz parte do programa o envio às escolas de baú, apelidado de ‘Tesouros de Dandara e Piatã’, com 92 livros temáticos, além de tecidos africanos, instrumentos musicais, objetos pertencentes as culturas indígenas e africanas, lápis cor de pele, mapas da África, da Diáspora Africana que enfoca a localização original dos povos indígenas no Brasil, entre outros.
Afinal, o que significa Dandara e Piatã?
O nome do programa, Diadema de Dandara e Piatã, junta termos das culturas africana e indígena. Dandara dos Palmares foi uma mulher forte e guerreira que lutou até o fim por um ideal, por um povo e por si mesma. Sobreviveu à escravidão e liderou seu povo, lado a lado com Zumbi. Já Piatã é um termo de origem tupi que significa ‘pé duro’, ‘pedra dura’ ou ‘homem forte’.