A economia do ABC registrou em 2016 o terceiro ano consecutivo de retração, período no qual perdeu quase um quarto de seu Produto Interno Bruto (PIB).
Naquele ano, a riqueza gerada pelos sete municípios somou R$ 112,05 bilhões, montante quase 2% superior aos R$ 109,88 bilhões obtidos em 2015. Porém, quando é aplicado o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (6,28%), que mede a inflação oficial do país, a alta vira retração de 4,05%.
Os dados foram divulgados ontem (14) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que divulga os números municipais com dois anos de defasagem. Em 2015, o PIB da região – que teve os valores revisados para baixo – havia caído 16%, resultado que se seguiu ao tombo de 6,1% em 2014.
Entre 2014 e 2016, a economia do ABC encolheu 24,3% e caiu ao patamar de 2005.
Em 2016, o país registrou o segundo ano seguido de recessão, com queda de 3,3% no PIB. Foi marcado pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff, sucedida pelo vice Michel Temer; pela inflação ainda elevada, somente controlada no final do ano; e pelo forte déficit nas contas públicas, que levou o governo a aprovar o teto dos gastos.
No ABC, foi novamente preponderante para o desempenho negativo de 2016 a crise no setor automotivo, carro-chefe da economia regional.
Naquele ano, a produção de veículos caiu 11,2%, enquanto o total de emplacamentos recuou 20,2%, como resultado do aumento dos juros e da rigidez dos bancos na concessão de crédito. As exportações cresceram 24,5%, mas não foram suficientes para reduzir a ociosidade nas fábricas – que, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), encerrou o ano em 50% nas montadoras de veículos leves e de 75% nas de pesados.
A crise política e o aprofundamento da recessão minaram a confiança de consumidores e empresários, com reflexo sobre o nível de emprego. Em 2016, a região perdeu 53,8 mil postos de trabalho, segundo a Relação Anual de Informações Sociais (Rais).
Não por acaso, o valor adicionado industrial da região – espécie de PIB do setor fabril – encolheu 3,3% em 2016, para R$ 24,29 bilhões, depois de ter recuado 27% no ano anterior. A queda foi puxada por São Bernardo (sede de cinco montadoras), onde o PIB industrial caiu 12,1%.
Como resultado, a participação da indústria no PIB dos sete municípios manteve-se praticamente estável em 2016, com 21,6% do total.
No sentido inverso, os serviços aumentaram sua fatia na economia do ABC – de 51,3% em 2015 para 53,8% no ano seguinte – mesmo com a alta apenas discreta do PIB do setor, de 0,2% (veja gráfico).
Região volta a perder participação no PIB brasileiro, que cai a 1,79%
Devido à queda de 4,05% no Produto Interno Bruto (PIB) local, a região voltou a perder participação relativa na economia brasileira em 2016, pelo sexto ano seguido. A “fatia” do ABC, que era equivalente a 1,83% em 2015, despencou para 1,79% no ano seguinte.
Caso fosse uma só cidade, o ABC ocuparia, mais uma vez, a quarta posição no ranking dos maiores PIBs do país em 2016. A Capital paulista encabeça a lista, com 10,96% de participação (R$ 687 bilhões). Em seguida figuram o Rio de Janeiro (5,26%) e Brasília (3,76%). O ABC está à frente de Belo Horizonte (MG), quarta com 1,41%, e Curitiba (PR), quinta com 1,34%.
Osasco foi a surpresa da divulgação de ontem (14). Primeira não-Capital a aparecer no ranking, a cidade da região metropolitana subiu da oitava para a sexta posição, com PIB de R$ 74,4 bilhões – resultado puxado, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), pelo comércio, serviços de informação e pelas atividades financeiras.
A participação do ABC na produção de riquezas do Brasil era, em 2016, menos da metade do que a registrada em 1975, devido à forte perda de atividade econômica e ao processo de desconcentração industrial.
A região respondia por 4,72% do PIB brasileiro em 1975. Na prática, significa que, de cada R$ 100 em riquezas produzidos no país naquele ano, R$ 4,72 tinham como origem a região. Após 41 anos, a fatia do ABC no “bolo” brasileiro era de R$ 1,79. Assim, há queda acumulada de 62,1%.
A explicação está no fato de que houve, sobretudo na primeira metade dos anos 1990, transferência de empresas para outras cidades, atraídas por incentivos oferecidos em troca de investimentos.