
Durante sete décadas, a indústria foi o setor mais dinâmico do ABC, sendo responsável por centenas de milhares de empregos e por boa parte da renda e da arrecadação dos municípios. Também estimulou o crescimento dos serviços, a tal ponto que, quando a atividade fabril começou a perder fôlego – primeiro nos anos 1990 e, mais recentemente, a partir de 2011 – foi o chamado terciário que salvou o Produto Interno Bruto (PIB) da região de um colapso maior. O problema é que, se nada for feito para fortalecer o parque fabril dos sete municípios, é a própria expansão dos serviços que estará ameaçada.
Dois estudos publicados pelo Observatório de Políticas públicas, Empreendedorismo e Conjuntura da Universidade de São Caetano (Conjuscs) dão a dimensão da perda de dinamismo da indústria do ABC. O mais recente mostra que a participação do setor fabril no PIB regional caiu de 32,55% em 2002 para 21,67% em 2016, último dado publicado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O outro estudo – que emprega dados da Relação Anual de Informações Sociais (Rais) – revela que, no mesmo período, a participação da indústria no total de empregos com carteira assinada da região caiu de 34,83% para 26,08%, enquanto a fatia dos serviços aumentou de 40,64% para 42,85% e a do comércio, de 14,81% para 19,26% na mesma comparação.
“O ABC fez uma série de esforços para diversificar e modernizar sua indústria, mas a fragilidade do parque fabril do ABC não foi revertida e, em um momento de grande recessão como agora, essa fragilidade aparece de forma muito evidente, o que só reforça a necessidade de retomar esforços para fortalecer a indústria. Sem ela, os serviços não terão a mesma vitalidade”, afirmou Roberto Vital, professor de História Econômica da USCS.
O economista afirmou que o ABC ainda tem parque fabril bastante pujante, mas reconhece que a região vive processo de “retração industrial”. Outro dado que reforça essa tese é que a participação dos sete municípios no PIB industrial do Estado de São Paulo caiu de 10,81% em 2002 para 6,58% em 2016.
O problema é que o setor de serviços depende em boa parte da indústria, uma vez que, com a restruturação produtiva ocorrida a partir dos anos 1990, atividades de segurança, alimentação, contabilidade e transporte, entre outras, acabaram terceirizadas.
“Uma indústria fortalecida é necessária para assegurar empregos, renda, tributos e a própria expansão dos serviços. Sem a indústria, o terciário terá mais dificuldade para crescer na região”, afirmou Vital.
O coordenador do observatório, Jefferson José da Conceição, lembrou que a indústria oferece os empregos mais qualificados e paga os maiores salários. Assim, uma crise no setor, com o fechamento de postos de trabalho, tende a reduzir a massa salarial da região, com impacto também sobre os serviços prestados às pessoas (educação, saúde, lazer).
“Não sou muito otimista quanto à massa salarial porque, mesmo que haja retomada na indústria, a reforma trabalhista, da forma como foi implementada, vai gerar empregos com menor remuneração”, afirmou Conceição.