A atual crise econômica teve – e ainda tem – efeito devastador sobre o mercado de trabalho do ABC, mas se mostra especialmente perversa com os mais jovens, parcela menos qualificada e, portanto, mais suscetível a ajustes na mão de obra.
Prova disso é que, no biênio 2014-2015, período em que o estoque de empregos com carteira assinada na região caiu 5,8%, a ocupação na faixa de 18 a 24 anos despencou 15,2%, mostram dados compilados pelo Diário Regional da Relação Anual de Informações Sociais (Rais), que reúne registros administrativos das empresas.
Das 48,4 mil vagas fechadas entre os dias 1º de janeiro de 2014 e 31 de dezembro de 2015 nos sete municípios, 21 mil (43,5% do total) eram ocupadas por jovens entre 18 e 24 anos.
No sentido contrário, na faixa etária de 50 anos ou mais, o nível de ocupação cresceu 5% no mesmo período, com a geração de quase 6,2 mil postos de trabalho.
A Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) retrata a mesma realidade. Segundo o levantamento domiciliar realizado pela Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade) e pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), dos 58 mil postos extintos no ABC em 2014 e 2015, 44 mil eram ocupados por jovens de 16 a 24 anos.
Os números diferem porque a Rais reporta empregos formais, enquanto a PED mensura também vagas sem carteira assinada e autônomos.
Mais cruel
Ao analisar os dados, o coordenador da PED pela Fundação Seade, Alexandre Loloian, afirmou que, à exceção dos trabalhadores com idade acima de 50 anos, o desemprego afetou todas as faixas etárias (veja quadro ao lado), mas foi mais cruel com os jovens porque compõem a mão de obra menos qualificada e menos experiente.
Além disso, o custo – social e financeiro – de demissão dos mais jovens é menor que o de trabalhadores com mais tempo de emprego.
Loloian destacou que os trabalhadores mais experientes levam vantagem também no período que antecede a retomada da atividade econômica, quando as incertezas ainda permeiam as decisões dos empresários.
O coordenador da PED afirmou que o ajuste no emprego ocorrido em 2014 e 2015 foi mais intenso nas pequenas e médias empresas – que não dispõem, como as grandes, de mecanismos de flexibilização da mão de obra. Por isso, em momentos de aumento pontual da demanda, que exigem contratação imediata e por um curto espaço de tempo, os mais experientes têm a preferência.
“Em um período de incerteza, a empresa não vai perder tempo para treinar um novato. É mais seguro contratar alguém que conhece a função”, explicou Loloian.
Indústria
Embora o setor de serviços seja o maior empregador de jovens na região, com 45% dos trabalhadores de 18 a 24 anos, foi na indústria que o desemprego atingiu essa faixa etária com mais violência.
Dos 21 mil jovens que ficaram sem emprego no ABC no biênio 2014-2015, quase 11,5 mil trabalhavam na indústria, o mais afetado pela crise. Com isso, o estoque de trabalhadores dessa faixa etária no setor caiu de 33,4 mil para 21,9 mil no período.