O setor metalmecânico é a maior vítima da crise que corroeu o nível de emprego no ABC. Nos 12 meses encerrados em outubro, a ocupação nesse setor caiu 16,9% na região, com o fechamento de 23 mil vagas. Em 24 meses, o tombo é ainda maior, de 33,9%, com a extinção de 58 mil.
O segmento inclui a produção de metalurgia, máquinas, eletrônica e veículos, entre outras atividades fabris, com predominância da cadeia automotiva.
Dados da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED), divulgados na última quarta-feira (30), revelam ainda que a participação do ramo metalmecânico na ocupação fabril do ABC caiu a 45,7%, menor patamar desde 2011, quando a metodologia da PED foi revista. No mesmo mês de 2015, a fatia era 49,8%.
“O nível de ocupação do setor metalmecânico no ABC é a menor da série histórica”, revelou César Andaku, economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), que realiza a pesquisa em parceria com a Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade).
Em outubro, o segmento empregava 113 mil pessoas na região, quase 100 mil abaixo do pico (211 mil) obtido em dezembro de 2011.
No setor automotivo, que amarga o quarto ano seguido de queda nas vendas, as montadoras têm recorrido a mecanismos como “lay-off” (suspensão do contrato de trabalho) e Programa de Proteção ao Emprego (PPE) para evitar demissões, mas as fabricas de autopeças não têm a mesma flexibilidade para aplicá-los. Nos últimos meses, empresas como Keiper (Mauá), ABR e Karmann-Ghia (São Bernardo), entre outras, fecharam as portas ou encerraram a produção no ABC.
Andaku destacou que o movimento de fechamento de vagas no setor metalmecânico deve continuar nos próximos meses e, mesmo com a retomada da atividade econômica, não há certeza de recuperação nos postos de trabalho.
“No longo prazo, mesmo com a retomada da economia, dificilmente o setor metalmecânico vai retomar o patamar de ocupação, porque não é só um movimento de acomodação da mão de obra. Há fechamento de empresas e de vagas que não vão voltar”, afirmou o economista.
Sem imunidade
Excluindo o ramo metalmecânico, o emprego fabril surpreendentemente cresceu no âmbito da PED, ganhando 9 mil vagas no ABC nos últimos 12 meses. Ocorre que as demais atividades industriais – entre as quais está, por exemplo, a produção de alimentos e medicamentos – é menos suscetível a crises. Mesmo assim, esses segmentos não ficaram imunes à recessão no ABC: a Yoki encerrou a produção em São Bernardo e a Bacardi fechou planta na mesma cidade.