
O presidente da Argentina, Mauricio Macri, anunciou ontem (8) que, devido à disparada do dólar e às dificuldades do governo em proteger o peso de desvalorização ainda maior, decidiu iniciar conversas com o Fundo Monetário Internacional (FMI) “para alcançar acordo que permita superar as turbulências cambiais dos últimos dias”.
O objetivo é conseguir linha de crédito de US$ 30 bilhões, informou a Bloomberg. O governo argentino e o FMI não confirmam o montante.
É a primeira vez em 15 anos que o país recorre ao FMI, instituição que ficou marcada pelos sucessivos empréstimos ao país nas décadas de 1980 e 1990 – e, mais tarde, pela turbulenta relação com o governo dos Kirchner.
Macri disse que tomou a decisão para proteger o salário dos argentinos. Na semana passada, o dólar se valorizou mais de 5% ante o peso. O Banco Central argentino aumentou os juros por três vezes em uma semana, para tentar conter não apenas a forte desvalorização do peso, mas também a inflação, que continua acima da meta. O indicador está na casa dos 20% –a meta estabelecida pelo governo para o ano é de 15%.
Contágio
Em meio à forte crise cambial no país vizinho, os temores de analistas brasileiros se fixam nos estragos sobre o comércio entre os dois países.
Diferentemente de outras crises, um robusto volume de reservas em moeda estrangeira, de quase US$ 400 bilhões, dá ao Brasil certo conforto com relação à trajetória da inflação, dos juros e até mesmo do real – que, desde meados de abril, caiu cerca de 5%.
Com a perda de prumo da Argentina, são as exportações para os hermanos, em especial de automóveis, que podem sair machucadas.
“É esse o principal canal de contágio do Brasil”, disse Lívio Ribeiro, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV).
Em 12 meses até abril, disse Ribeiro, a balança comercial da cadeia automotiva entre Brasil e argentina teve saldo positivo a favor do Brasil de cerca de US$ 5 bilhões. A importância disso para o Brasil fica mais clara quando se observa que o número é quase 10% do saldo comercial total entre os dois países.
“A Argentina pode não ser importante para o mundo, mas é muito importante para a gente”, disse Ribeiro.
Maurício Molon, economista-chefe do Santander, ressalta que 70% das exportações de automóveis do Brasil vão para a Argentina.
Como as vendas externas do setor automotivo correspondem a um quarto da produção, disse Molon, uma queda de 10% das exportações poderia afetar entre 2% e 2,5% da produção.