
O mercado de trabalho com carteira assinada do ABC registrou em agosto o maior saldo líquido entre admissões e demissões para o mês em sete anos. Foram criadas 1.867 vagas formais nos sete municípios, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgados ontem (21).
Trata-se do melhor resultado para o mês desde agosto de 2011, quando o Ministério do Trabalho registrou a criação de 2.942 empregos celetistas.
O saldo líquido foi puxado, principalmente, pelo comércio e pelos serviços, que geraram 779 e 754 postos de trabalho em agosto, respectivamente. Ambos refletem a inflação baixa e a recuperação, ainda que discreta, dos indicadores de emprego e renda.
O desempenho do comércio foi impulsionado por contratações feitas pelo Grupo Bem Barato para nova loja no Bairro Serraria, em Diadema.
Nos serviços, os dados do Caged mostram que as atividades de ensino geraram 458 das 759 vagas formais criadas no setor no mês passado.
“Agosto é um começo de semestre letivo e, como no início do ano, ocorre contratação de professores. Também pode estar ocorrendo alguma melhora de demanda no setor, com recuperação no número de matrículas”, afirmou Sandro Maskio, professor de Economia da Universidade Metodista de São Paulo (Umesp).
Os dados também mostram a geração de 173 vagas em atividades de telemarketing.
No sentido contrário, a indústria fechou 191 vagas em agosto no ABC, sob influência, principalmente, de postos de trabalho extintos nos setores químico (80) e de veículos e autopeças (123).
O parque fabril vive reversão de expectativas provocada pela greve dos caminhoneiros, ocorrida no final de maio, e pela crise na Argentina, que derrubou as exportações de veículos. “A Argentina é nosso grande parceiro no setor de veículos e, com a crise naquele país, é possível que a cadeia automotiva tenha sentido o baque da queda nas vendas ao exterior”, avaliou Maskio.
FINAL DO ANO
De janeiro a agosto, o mercado de trabalho do ABC registra a criação de 9.016 vagas. Trata-se do melhor resultado para o período desde 2011.
A região vive a expectativa de encerrar o ano no “azul”, o que não ocorre desde 2013. Porém, a desaceleração da atividade econômica e as incertezas decorrentes das eleições podem jogar um balde de água fria sobre essa projeção.
“Com a queda na expectativa do PIB (Produto Interno Bruto), o mercado de trabalho também deve sofrer. Em geral, o emprego é mais forte até o final do terceiro trimestre. Ou a recuperação continua até lá, ou ficará para 2019”, projetou Maskio, ao lembrar que, em dezembro, o resultado do Caged costuma ser negativo.
Em dezembro, o comércio “devolve” as vagas temporárias criadas antes do Natal.
No país, setor de serviços gerou 60% dos dos empregos criados em agosto
O setor de serviços foi responsável pela maior parte dos empregos criados em agosto. Das 110,4 mil novas vagas registradas no mês passado, 66,3 mil (60%) foram criadas nesse setor, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).
O saldo registrado no mês passado é o maior para o mês desde 2013, quando foram criadas 127,6 mil novas vagas.
Comemorado pelo governo, o resultado foi divulgado em três etapas. Primeiro, o presidente Michel Temer escreveu no Twitter, na quinta-feira (20), que o Brasil criou mais de 100 mil vagas formais.
Na manhã de sexta-feira (21), Temer voltou a falar sobre o dado e anunciou saldo positivo de 117 mil postos. À tarde, o Ministério do Trabalho divulgou os dados detalhados, com saldo menor que o mencionado pelo presidente.
Depois do setor de serviços, aparecem o comércio, com 17,9 mil novos empregos, e a indústria de transformação, com 15,8 mil. A agropecuária foi o único que mais demitiu do que contratou. O saldo ficou negativo em 3,4 mil postos fechados.
Na análise dos subsetores de serviços, a área de ensino aparece com saldo de mais de 20 mil novas contratações.
Em seguida está a administração de imóveis, com saldo positivo de 18 mil, e serviços de alojamento, alimentação e reparação, com mais de 12 mil.
Bruno Ottoni, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), avaliou o resultado de agosto como “boa notícia”, mas ponderou que é cedo para prever se o ritmo de melhora vai se repetir.
“Temos de esperar para ver se esse tipo de resultado mais forte ocorrerá nos próximos meses”, disse.