LUIZ HUMBERTO MONTEIRO PEREIRA
AutoMotrix
Apesar dos problemas causados pela falta de componentes, que afeta a maioria das linhas de montagem de veículos no Brasil, o Argo vive um dos seus melhores momentos desde que foi lançado, em maio de 2017. O hatch compacto da Fiat ocupa a segunda posição no ranking anual de vendas, com 73.795 emplacamentos de janeiro a outubro. Embora tenha liderado as vendas nos meses de maio, julho e outubro, o hatch fabricado em Betim (MG) ainda é superado pela picape Fiat Strada, que emplacou 91.514 unidades no acumulado do ano. Porém, já ultrapassou, por menos de mil unidades, o rival Hyundai HB20, com 72.998 emplacamentos em igual período.
Em meio à boa fase da linha Argo, há uma versão que anda um tanto ofuscada: a Trekking 1.3. Com o lançamento do Pulse, utilitário esportivo da mesma plataforma, a versão aventureira do hatch poderia perder um pouco o sentido. Afinal, o Argo Trekking 1.3 parte de R$ 78.990 (há variações conforme as diferentes tributações estaduais), enquanto a versão Drive 1.3 manual do Pulse, que leva o mesmo conjunto motor-câmbio, foi lançada por R$ 79.990. Assim, a diferença de preços entre o hatch com estética off-road e a configuração básica do novo SUV ficou em R$ 1 mil.
O Argo Trekking foi apresentado em maio de 2019. Além do design inspirado nos utilitários esportivos, trouxe diferenciais que habilitam o hatch para trilhas leves. A suspensão foi reforçada e elevada – são 21 centímetros de vão livre em relação ao solo, 4 cm a mais que o da versão Drive – e os pneus são Scorpion 205/60R15 91H S-ATR WL com perfil mais alto e banda de rodagem para uso misto. Novos amortecedores e molas reforçadas deixam essa versão mais apta a encarar pisos de má qualidade. Nada que transforme um hatch em um SUV, mas são atributos valorizados por quem roda nas ruas e estradas brasileiras – às vezes, tão maltratadas que mais parecem trilhas de rali.
A pintura bicolor diferencia a versão Trekking das outras do Argo – o preto domina a capota, as barras do teto, os retrovisores, a coluna central e o aerofólio traseiro, além do aplique quadrado com grafismos no alto do capô, que remete a alguns modelos da Jeep. Também são escurecidos os faróis com design em LEDs, as molduras das caixas de roda e a parte inferior do para-choque traseiro. Recentemente, o modelo recebeu mudanças discretas no visual, como a logomarca em cromo negro e a pequena bandeira italiana na grade dianteira (a Fiat Flag) e os adesivos redesenhados na carroceria, na parte baixa das portas. A ponteira de escapamento trapezoidal e as rodas aro 15 com calotas também são enegrecidas, assim como as molduras plásticas que contornam laterais e caixas de roda.
Algumas logomarcas “Trekking” aparecem nas portas e na tampa do porta-malas – no teto preto, próximo ao para-brisa, surge apenas o desenho do logotipo de aspecto tribal, que lembra dois triângulos sobrepostos em tom laranja. Opcionalmente, é possível incluir rodas de liga leve de aro 15 com cor negra e câmera de ré com linhas dinâmicas, o que acrescenta R$ 4.090. Dois acessórios da Mopar são exclusivos da versão Trekking: as barras transversais de teto e o suporte para bicicleta, apoiado nas barras transversais que, por sua vez, precisam das barras longitudinais – que, no hatch, são item de série específico da configuração aventureira.
Por dentro, o tecido escuro dos bancos ressalta costuras alaranjadas, área central com textura quadriculada e logotipo Trekking bordado. O multimídia Uconnect de sete polegadas touchscreen com Apple CarPlay e Android Auto se destaca no painel.
Sob o capô do Argo Trekking está o motor Firefly 1.3 de quatro cilindros aspirado, com duas válvulas por cilindro, que entrega potência de 109 cavalos e torque de 14,2 kgfm. É o mesmo que move a versões Drive 1.3 do Argo e do Pulse e as mais caras da Strada, sempre acoplado a um câmbio manual de cinco velocidades.
Não se sabe se a linha Argo receberá o novo motor 1.3 turbo flex 200 apresentado no Pulse, com 130 cv de potência a 5.750 rpm abastecido com etanol e 20,4 kgfm de torque de 1.750 a 3.500 giros com os dois tipos de combustível, associado à transmissão automática de sete marchas com opção de trocas sequenciais em abas situadas atrás do volante. No Argo, esse trem de força embalaria muito bem uma versão esportiva do hatch – talvez a própria Trekking.
Porém, o fato é que a diferença de apenas R$ 1 mil entre os preços do Argo Trekking 1.3 e do Pulse Drive 1.3 não deve durar tanto, porque o valor cobrado pelo Pulse “de entrada” é promocional de lançamento e provavelmente será reajustado em breve. Assim, o Argo Trekking 1.3 – que se tornou top de linha de família, pois as versões automáticas Trekking 1.8 e HGT 1.8 não tiveram suas linhas 2022 apresentadas – assumirá a função mercadológica de ser a “ponte” entre o hatch e o novo SUV compacto da linha Fiat. Como custa somente R$ 600 a mais que a Drive 1.3 S-Design, que tem o mesmo propulsor e parte de R$ 78.290, a versão Trekking acaba sendo uma das mais procuradas do Argo. A estética off-road ainda tem seus fãs e alguns deles preferem a leveza dos hatchs ao estilo mais abrutalhado dos SUVs.
Simples e bem resolvido
Com seus 109 cv de potência e torque de 14,2 kgfm, o motor Firefly 1.3 de quatro cilindros move com agilidade os 1.130 kg da versão aventureira do Argo. Uma tarefa mais fácil que a da versão Drive do SUV Pulse, da qual o mesmo conjunto motor-câmbio tem de mover 50 kg a mais e uma carroceria mais robusta e elevada. No Firefly 1.3, o torque máximo só aparece em 3.500 giros, mas a maior parte dele já está disponível nas baixas rotações, o que confere agilidade às acelerações. O conjunto embala de forma convincente as retomadas de velocidade, e o ganho de velocidade é consistente.
A transmissão manual de cinco marchas tem relações curtas. Uma sexta marcha no câmbio provavelmente reduziria o consumo na estrada. O curso do pedal de embreagem é ligeiramente longo e o câmbio manual poderia ter curso menos longo. A direção com assistência elétrica funciona bastante bem – leve nas manobras de estacionamento e mais firme nas altas velocidades.
Os 21 cm de vão livre permitem ao Argo Trekking passar com alguma desenvoltura por lombadas, valetas e outros obstáculos urbanos. O ajuste correto da suspensão ajuda a performance nas trilhas e também não deixa a carroceria adernar demasiadamente nas curvas feitas em altas velocidades.
O Argo Trekking roda em pisos irregulares mantendo o bom comportamento dinâmico demonstrado no asfalto. A absorção de impactos pela suspensão funciona e o aventureiro transmite sensação de segurança mesmo em terrenos de baixa aderência. Recentemente incorporadas ao Trekking, os controles de estabilidade e tração e o assistente de partida em rampa ajudam a tornar esse hatch com jeito de crossover ainda mais consistente.
A BORDO
No Fiat Argo Trekking, quatro adultos acomodam-se sem dificuldade, com razoáveis vãos para a cabeça e as pernas de quem se senta no banco traseiro. O interior usa e abusa do preto e apenas alguns frisos no volante e no console são prateados e as saídas de ar, cromadas. No console central, há apenas um porta-copos, e no painel, um pequeno porta-objetos serve para abrigar miudezas.
Os bancos são revestidos em tecido escuro texturizado, com costuras em laranja, com o logotipo da versão bordado no encosto. Os plásticos são rígidos, mas a montagem é bem executada.
A ergonomia e a visibilidade do Argo Trekking são boas, inclusive a proporcionada pelos retrovisores. O volante é regulável em altura, mas não em distância. De série, o hatch traz ar-condicionado, central multimídia UConnect com tela sensível ao toque de sete polegadas, conectividade com celulares e sistema de reconhecimento de voz, alarme, controle remoto na chave para travas, vidros e tampa do porta-malas, direção e retrovisores elétricos, faróis de neblina, sensor de obstáculos traseiro, volante multifuncional e computador de bordo.