A desaceleração do consumo tem ajudado a evitar o avanço da inadimplência no ABC. Prova disso é que o número de negativações – ou seja, de novos registros de dívidas vencidas e não pagas – caiu 2,9% em novembro na região na comparação com o mesmo mês do ano passado, segundo indicador da Boa Vista Serviço Central de Proteção ao Crédito (SCPC).
No acumulado do ano até novembro houve queda de 1,9% em relação ao mesmo período de 2015.
Para o economista Yan Cattani, da Boa Vista SCPC, a crise tornou o consumidor do ABC mais cauteloso. O especialista avalia que o aumento do desemprego e a queda na renda deixam as pessoas preocupadas sobre sua capacidade de honrar compromissos no futuro, o que inibe os gastos, especialmente aqueles que demandam financiamento de médio e longo prazos.
Os dados mais recentes do ACVarejo, levantamento mensal da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), mostram queda de 5,3% nas vendas do setor no ABC no acumulado do ano até setembro ante igual período do ano passado – queda influenciada por segmentos mais dependentes de crédito, como móveis e decoração.
“As famílias estão usando menos o crédito e se endividando menos, principalmente nos dois últimos anos”, afirmou Cattani.
Paralelamente, o número de consumidores que limparam seu nome – e que, por isso, foram excluídos dos registros de inadimplência – cresceu 5,2% em novembro na comparação com o mesmo mês do ano passado.
No acumulado de 2016 até novembro, o aumento é ainda maior, de 6,7% ante o mesmo período de 2015.
Para Cattani, o dado demonstra maior preocupação do consumidor do ABC com o pagamento de suas dívidas antigas, em detrimento do consumo. Também sugere que os trabalhadores demitidos têm usado o dinheiro da rescisão para quitar seus débitos.
Endividamento
O economista da Boa Vista SCPC destacou que os dados sinalizam melhora no cenário de inadimplência na região, mas fez a ressalva de que decorre do baixo consumo. “O endividamento responsável, que respeita a capacidade de pagamento, é saudável e ajuda a impulsionar a economia. O que não se pode fazer é alavancar o consumo em dinheiro caro, como o crédito rotativo, que desequilibra o orçamento”, advertiu.
Cattani acredita, porém, que a melhora nos indicadores de inadimplência pode contribuir para alavancar a retomada da economia – o que, no seu entender, deve ocorrer a partir da segundo semestre de 2017.