
A provável escalada dos preços do barril de petróleo após a morte do general Qassem Soleimani, líder da Guarda Revolucionária Iraniana, em um ataque aéreo norte-americano no Iraque, deve impor novo teste à política de preços de combustíveis da Petrobras.
O petróleo disparou depois da veiculação da notícia, deixando investidores receosos com a possibilidade de que o alastramento das tensões geopolíticas prejudique a oferta da commodity no Oriente Médio.
Na tarde de ontem (3), o petróleo moderou os fortes ganhos vistos pela manhã. O contrato do barril tipo Brent – referência global – para março fechou em alta de 3,54%, cotado a US$ 68,60, em Londres. Trata-se do maior valor desde abril do ano passado.
As ações da Petrobras até chegaram a subir, mas depois ficaram instáveis, concluindo o dia em queda de 0,81% (PN) e de 2,47% (ON).
A avaliação é de que os preços da gasolina e do diesel no Brasil podem subir se a cotação do petróleo no mercado internacional continuar avançando e se mantiver em patamares elevados por mais tempo. O Irã é o quinto maior produtor mundial de petróleo.
O presidente Jair Bolsonaro disse ontem que a ação militar dos EUA vai impactar no preço dos combustíveis no Brasil. “Que vai impactar, vai”, previu. Bolsonaro afirmou que a gasolina já está alta e, se continuar subindo, “complica”. “Vamos ver nosso limite”, declarou.
O presidente disse que é preciso mostrar à população brasileira que o governo não pode “tabelar (o preço de) nada”. “Fizemos essa política no passado, de tabelamento, e não deu certo. Nessa questão do combustível, nós temos de quebrar o monopólio (da Petrobras)”, afirmou.
Mais tarde, Bolsonaro afirmou já ter conversado sobre o assunto com o ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, e com o presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco.
O presidente chegou a sugerir que os governadores reduzam as alíquotas do Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) incidentes sobre os combustíveis caso o cenário se confirme.
“A gente apela para os governadores. Vamos supor que aumente 20% o preço do petróleo, vai aumentar em 20% o ICMS. Não dá para os governadores cederem um pouco nisso também? Todo mundo perde. Quando você mexe nos combustíveis, toda a economia é afetada”, declarou.
AUTONOMIA
A Petrobras atrelou sua política de preços às cotações globais do petróleo durante o governo de Michel Temer, quando seus dirigentes determinaram que não mais seria baseada no controle interno da inflação, como vinha ocorrendo até o final da gestão de Dilma Rousseff. Porém, ainda há dúvida quanto à real autonomia da estatal para definir os preços dos combustíveis em momentos de crise.
A Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom) espera posicionamento da estatal para a semana que vem. “A Petrobras deve aguardar a estabilização da cotação, o que deve ocorrer na próxima semana”, disse o presidente da entidade, Sérgio Araújo.
A associação tem recorrido ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) toda vez que avalia que a Petrobras atua descolada do mercado externo. Nessas ocasiões, o argumento é que, ao segurar os preços internos, a estatal impede a livre a concorrência.
Na opinião do economista-chefe da Necton, André Perfeito, a escalada das tensões entre EUA e Irã “encerram” as chances de haver novo corte da taxa básica de juros (Selic).
Perfeito também afirma, em nota, que é preciso observar se o Planalto vai interferir em eventual alta da gasolina. Outro ponto a ser monitorado, destacou, é se o governo brasileiro vai se alinhar a Washington nesse conflito. “Além de não fazer parte das nossas tradições diplomáticas (sempre neutras e ambíguas quando se trata de assuntos dessa natureza), pode atrapalhar mais ainda nossa balança comercial”, avaliou.
“A combinação de dólar e petróleo subindo pode trazer impacto para a inflação”, disse Samuel Torres, da Capital Research.