
Pelo segundo dia consecutivo, a Bolsa de Valores fechou no azul, em um movimento que não se via no mercado de capitais desde o começo de março, quando os investidores (brasileiros e, principalmente, estrangeiros), empreenderam fuga da renda variável com medo dos impactos da pandemia do coronavírus na saúde financeira das empresas listadas.
Ontem (25), o Ibovespa – cesta com as principais ações negociadas na B3 – fechou em alta de 7,50% e ficou bem próximo dos 75 mil pontos (74.955) – o patamar de 15 dias e de dois circuit breakers atrás.
Em dois dias, o índice acumulou alta de 17,9%, maior ganho para o mercado acionário desde 29 de outubro de 2008, segundo levantamento realizado pela Economática. O valor de mercado das empresas brasileiras listadas na B3 valorizam R$ 388,2 bilhões nesse período.
O giro financeiro de ontem foi de R$ 28,6 bilhões, quase R$ 10 bilhões a mais do que o da última segunda-feira, quando o Ibovespa ficou a 5% de perder o patamar dos 60 mil pontos.
Para os analistas, ontem foi um bom dia para o investidor, mas poderia ser ainda melhor. Ao longo da quarta-feira, a bolsa chegou a subir acima dos 9%, lembrou o economista-chefe do banco Modalmais, Alvaro Bandeira. Porém, perdeu fôlego na reta final depois que chegou dos Estados Unidos a notícia de que, na última hora, um impasse entre democratas e republicanos travou as negociações para o megapacote de estímulos de US$ 2 trilhões. Os democratas queriam um aumento no valor do seguro-desemprego, mas os republicanos eram contra. Foi o que bastou para limitar o otimismo dos agentes.
Como a Bolsa local vem sendo muito mais impactada pelo que acontece fora do Brasil do que propriamente pelo noticiário local, os analisas afirmam que um ânimo extra foi dado ontem pela Alemanha, que aprovou programa de estímulos sem precedentes para o país, de € 750 bilhões, encarado como um sinal de que os países da zona do euro podem recorrer ao Mecanismo Europeu de Estabilidade para combater as consequências do coronavírus.
“Foram dois dias de notícias bem positivas”, disse o analista de ações da Rico Investimentos, Thiago Salomão. “Há muita coisa positiva acontecendo no exterior, o que contribui para minimizar os ruídos por aqui”, afirmou Victor Lima, economista da Toro Investimentos, referindo-se à crise cada dia mais profunda entre o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), Congresso e governadores, na estratégia para enfrentar a escalada do novo coronavírus no Brasil.
“Bolsonaro buscou marcar posição, dissociando a imagem pessoal de problemas sobre os quais não terá como agir individualmente”, observa Marcel Zambello, analista da Necton, chamando atenção para o desgaste político que tende a emergir de uma prolongada paralisia econômica, que afetará a renda e o emprego da população.
DÓLAR
O dólar teve novo dia de queda, na esteira da melhora do ambiente de negócios no exterior após o acordo em Washington para aprovar o pacote emergencial trilionário do governo americano para contornar a crise do coronavírus, embora com direto a impasse no final do dia entre democratas e republicanos sobre o valor do seguro-desemprego. A moeda americana chegou a cair abaixo de R$ 5 na tarde de ontem, mas em dia de fraco volume de negócios, a queda acabou perdendo força na hora final dos negócios. No mercado à vista, o dólar fechou a R$ 5,0326, em baixa de 0,97%.