Luiz Inácio Lula da Silva não tem em quem votar no segundo turno em São Bernardo. A cidade, berço do movimento sindical que consagrou o ex-presidente e deu origem ao PT, não escolheu Tarcisio Secoli, candidato do atual prefeito, Luiz Marinho (PT). Na disputa, estão o deputado estadual tucano Orlando Morando, 42, e o deputado federal do PPS Alex Manente, 37.
No carro de som no bairro Rudge Ramos, Morando prega ser a verdadeira oposição ao PT -chama o adversário de “genérico”. “Sou o único que nunca esteve do lado do PT”, discursa. O tucano explora o fato de Manente ter apoiado Marinho no segundo turno em 2008.
O candidato do PPS diz não se arrepender da escolha à época: “Era continuar com o passado negro ou uma mudança, representada pela candidatura do Marinho”. Entre 1996 e 2008, a cidade foi governada por Maurício Soares e seu vice, Dr. Dib, que passaram pelo PSB e PSDB. Manente, por sua vez, acusa Morando de ter feito acordo com o PT e “fugido” na eleição de 2012, quando não disputou contra Marinho.
No bairro do Taboão, Manente também tenta colar o PT ao rival, lembrando que o PC do B apoia o tucano no segundo turno. “Ele se aliou aos comunistas que apoiaram o governo Dilma”, discursam apoiadores no carro de som.
Ao anunciar apoio ao PSDB, o presidente municipal do PC do B, Jorge Oliveira, gravou vídeo ao lado de Morando afirmando que a decisão do partido contrariou a vontade do prefeito petista, que prefere Manente. O deputado, que votou pelo impeachment, convocou entrevista coletiva para dizer que não é apoiado pelo PT.
Neutralidade
O presidente do PT em São Bernardo, Brás Marinho, afirmou à reportagem que o partido se manterá neutro no segundo turno, mas que os dirigentes e militantes têm liberdade para agirem conforme sua preferência desde que não apoiem o PSDB. “Reforçamos que nosso maior adversário é o 45 (número do PSDB)”, disse. “O Alex tem dito que vai continuar as obras do prefeito Marinho, ao contrário do outro.”
O dirigente petista afirmou ainda que o partido lamenta a derrota em seu reduto histórico, mas que respeita a decisão do povo. Brás Marinho enumerou os parlamentares petistas de São Bernardo -cinco vereadores, três deputados estaduais e um federal. “Estamos mais vivos do que nunca.”
Morando e Manente anunciaram que não darão continuidade à construção na cidade do Museu do Trabalhador, sobre as greves e a trajetória de Lula. Ambos querem outra proposta cultural para o local.
Para Morando, o antipetismo em São Bernardo se deve às denúncias de corrupção e à crise econômica acentuada na cidade, sede de montadoras e onde o desemprego chegou a 17,2% em agosto, segundo o Dieese. No trimestre encerrado naquele mês, o IBGE apontou que o índice foi de 11,8%.
Febre Dória
Os candidatos investem na campanha de rua, já que São Bernardo, sem sinal de TV próprio, retransmite o horário eleitoral de São Paulo. Para Manente, foi um alívio a vitória de João Doria (PSDB) e o fim de seu horário na TV. O efeito Doria impulsionou tucanos na região.
Morando repete o mote de Doria: “São Bernardo não quer mais politiqueiro, a cidade precisa de um gestor”. Porém, o tucano, que é filho de comerciante e trabalhou nos supermercados do pai, não pode dizer que não é político. Concorreu a vereador com 18 anos e está no quarto mandato na Assembleia. Manente elegeu-se vereador aos 25 e foi deputado estadual antes de ir para Brasília.
De perfis parecidos, jovens e com alguma pinta de galã, Morando e Manente combinam nos seus jingles “o voto na mudança” e “o candidato preparado”. Na quinta (6), ambos vestiam camisa azul, jeans e sapato social. Um pela manhã e outro à tarde, falaram no carro de som, mas tiveram o passeio interrompido pela chuva.