Apesar da fraqueza da atividade econômica, o Banco Central decidiu não mexer nos juros. O Comitê de Política Monetária (Copom) manteve, ontem (19), a Selic em 6,5% ao ano, pela décima vez consecutiva. Ao mesmo tempo, a instituição indicou que o andamento da reforma da Previdência no Congresso será fundamental para suas próximas decisões em relação à taxa básica. Para economistas do mercado financeiro, o recado é de que somente com a reforma haverá espaço para cortar juros.
A manutenção da Selic no menor patamar da história era esperada entre os profissionais do mercado financeiro, mas havia expectativa de que, ao anunciar sua decisão, o Copom passasse a indicação de que os juros básicos poderiam cair nos próximos meses.
Em comunicado, o BC deixou claro que os índices mais recentes de atividade “indicam interrupção do processo de recuperação da economia brasileira nos últimos trimestres”. Em outras palavras, a retomada da economia parou.
Além disso, o BC pontuou que o cenário externo está mais favorável, após as indicações de que os países centrais não vão elevar juros tão cedo. Na tarde de ontem, o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) sinalizou que um corte de juros pode estar a caminho.
Estes dois fatores – a atividade fraca no Brasil e o cenário exterior favorável – poderiam levar o Copom, em tese, a cortar os juros. Porém, o colegiado disse ontem que, neste momento, o risco de as reformas não passarem no Congresso é “preponderante”. Na prática, o BC não vê risco maior de a reforma da Previdência fracassar, mas vincula eventual corte da Selic à aprovação da proposta.
“O momento do início do corte da Selic está vinculado à aprovação da reforma da Previdência”, avaliou o economista-chefe do Banco Fibra, Cristiano Oliveira. “Se a reforma passar na Câmara antes do recesso parlamentar (em julho), o Copom começará o ciclo de corte em juros. Caso a votação fique para agosto, a redução dos juros começará em setembro.”
Segundo o último relatório Focus, as projeções médias no mercado financeiro eram de que o Banco Central promoverá ao menos três cortes da Selic neste ano, a começar justamente em setembro. Desta forma, a taxa básica terminaria o ano em 5,75% ao ano.
“Todos que preveem corte de juros condicionam esse movimento à evolução favorável das reformas no Congresso”, reforçou o economista-chefe do Banco Safra, Carlos Kawall.
Os baixos índices de inflação parecem corroborar a projeção de uma Selic menor. No cenário de referência, em que o BC utilizou nos cálculos Selic fixa a 6,50% e dólar a R$ 3,85, o Copom reduziu de 4,1% para 3,6% sua projeção para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deste ano – bem abaixo da meta de 4,25% com margem de tolerância de 1,5 ponto porcentual para mais ou para menos.