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Avião da Chapecoense tinha plano de voo falho

O avião que levou a delegação da Chapecoense não poderia ter decolado da Bolívia em direção à Colômbia, onde caiu e deixou 71 mortos na terça-feira (29), segundo regras aeronáuticas.
O plano de voo era falho e considerado “absurdo” por especialistas em aviação. A liberação para o voo abriu crise na Bolívia, que decidiu afastar os executivos dos dois principais órgãos aéreos do país.

O documento do plano de voo do avião da empresa LaMia foi revelado pelo jornal boliviano “El Deber”. O piloto assinou planejamento da viagem sem nenhuma margem extra de combustível para imprevistos, como o que ocorreu na aproximação de Medellín.

Acidente com aeronave da LaMia deixou 71 mortos na última terça-feira. Foto: Reprodução/Departamento de Polícia de AntioquiaO plano apontava que a aeronave tinha capacidade de voar por quatro horas e 22 minutos –tempo exato do deslocamento previsto entre Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia, e Medellín. Além disso, não considerava escalas para abastecimento no meio do trajeto.

A principal hipótese para a tragédia é que a aeronave tenha ficado sem combustível após ser orientada a voar em círculos em Medellín.

A decolagem de um avião nessas condições foi considerada esdrúxula por pilotos ouvidos pela reportagem. Mais que erro, uma irresponsabilidade.

A requisição e aprovação de um plano de voo nessas condições fere regras internacionais de segurança aérea.

Pela lei boliviana, um voo deve ter combustível suficiente para chegar ao aeroporto de destino, mudar de rota para um segundo aeroporto e voar por pelo menos 45 minutos.

De acordo com as autoridades colombianas, no entanto, a aeronave da LaMia não tinha combustível sequer para ir ao aeroporto de apoio, em Bogotá, Capital colombiana.

Uma funcionária da AASANA, autoridade boliviana responsável por liberar o voo, chegou a resistir e apontar as falhas no planejamento antes da decolagem. O voo, porém, foi liberado mesmo assim, com conhecimento da autoridade aeronáutica boliviana.

Segundo relatório da funcionária que despachou a aeronave, havia outros problemas no plano de voo apresentado pelo representante da LaMia.

O documento assinalava apenas um aeroporto, de Bogotá, como alternativo no caso de emergência. A funcionária solicitou a indicação de um segundo aeroporto alternativo, mas isso não foi feito. No final do relatório existe até um desabafo. Apesar de ter dado 30 minutos para a LaMia mudar seu plano, nada foi feito.
“Muitas vezes os despachadores (representantes das empresas) não levam a sério nossas observações”, escreveu.

A LaMia usou como argumento para aprovação do voo o fato de ter percorrido a mesma rota sem problemas. Em 28 de outubro, a mesma aeronave percorreu o trajeto de Medellín a Santa Cruz de la Sierra.
A viagem ocorreu quase em linha reta, sem que o avião tivesse de aguardar pela liberação para pouso, como ocorreu na noite do acidente.

Naquela viagem, o voo durou quatro horas e 32 minutos. No dia do acidente, antes de cair, o voo durou mais, quatro horas e 42 minutos. “A viagem que deu certo deu certo por sorte, mas a sorte uma hora acaba”, disse um piloto brasileiro.

A pressão sobre as autoridades bolivianas cresceu e levou a uma verdadeira devassa no setor aéreo do país. A autorização de funcionamento da LaMia foi suspensa. Um dos diretores da entidade responsável pela concessão de registros aeronáuticos no país, Gustavo Steven Vargas, renunciou ao cargo. Seu pai, Gustavo Vargas, é diretor da LaMia.

O governo disse que uma investigação será feita sobre a empresa.

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