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Audair Leonel: ‘na política, às vezes, você dorme pré-candidato a prefeito e acorda até sem partido’

Audair: “você pensa que quando se eleger vai resolver todos os problemas”
Audair: “você pensa que quando se eleger vai resolver todos os problemas”. Foto: Wilson de Sá/Divulgação

O vereador Audair Leonel, líder do Cidadania na Câmara de Diadema, afirmou em entrevista ao Diário Regional que acredita estar cumprindo sua função quanto vereador, fez análise sobre os governos federal, estadual e municipal, além de balanço do seu mandato. Confira trechos principais da entrevista.

Qual balanço faz de sua atuação no Legislativo?

Venho cumprindo tudo que me propus quando era candidato. Tenho trabalho muito forte com portadores de deficiência e idosos. Procuro colocar projetos na Casa que realmente façam a diferença, como por exemplo, temos projeto que age direto nas licitações. Hoje uma empresa, quando disputa uma licitação, no próprio edital existe a obrigatoriedade de cumprir com o porcentual de vagas para portadores de deficiência. Se não provar por meio de documentos que vai cumprir, mesmo ganhando, pode ser desclassificada. Projeto de lei já aprovado.

Temos outra proposta aprovada que obriga em shoppings de Diadema que as mesas tenham identificação para portadores de deficiência, gestantes e idosos, dessa forma facilitamos o momento de lazer, preservando o espaço para essas pessoas.

Temos agora, o que que trata de vagas na Frente de Trabalho para mulheres que sofrem violência doméstica. Conseguimos, em acordo com o governo, tirar do sistema de cotas para que seja direito adquirido. Toda mulher que sofrer violência em Diadema e fizer todo o trâmite que determina a lei – for na delegacia e fizer a denúncia – será encaminhada à Casa Bete Lobo, que vai inseri-la imediatamente na frente de trabalho. Não terá fila para essa mulher. A vaga dela será garantida, independentemente do edital.

Acredito que esse projeto é de grande relevância, porque vai mudar a vida da pessoa. A mulher costuma aguentar a violência devido à dependência financeira, com isso fica refém da situação e acaba, como geralmente vemos, em feminicídio. Projeto meu e do vereador Pretinho (do Água Santa/DEM) que fizemos com muito carinho e atenção.

Essa é primeira parte do projeto, pois temos também a questão dos filhos. Não adianta dar a vaga de emprego e não ter onde a criança ficar. Então, já estamos preparando propositura, sentando com o secretário de Educação, para que, além da mulher ter emprego garantido, os filhos dela, de qualquer idade, tenham vaga garantida na rede de ensino.

O sr. tem forte atuação na área social…

Acredito que estou fazendo a diferença. Não sou vereador de apresentar muitos projetos. Não sou vereador que apresenta projeto para mudar nome de rua e de praça. Não critico que faz, porque cada um tem uma linha de trabalho. Porém, sempre procuro propor alguma coisa que realmente mude a vida da população, para lá na frente olhar para trás e ver que fiz a diferença na vida das pessoas. É nessa parte que me sinto realizado em ser vereador.

Na parte social, tenho dois escritórios. Porém, não acredito em assistencialismo. Não sou um vereador que doa cestas básicas. Nunca quis, por exemplo cuidar de entidade que distribui leite. O que eu, como vereador, procuro oferecer para os cidadãos de Diadema está relacionado à educação.

Em parceria com comerciantes e amigos montamos dois polos de cursos. Temos uma base no Jardim Marilene, onde já formamos 420 pessoas no curso de informática. O diferencial desse curso: não é o basicão. Por exemplo, damos uma base de Excel, ensinamos a elaborar currículo e a se portar em uma entrevista de trabalho. No Campanário, em curso semelhante, formamos 184 pessoas. Lá temos, também, curso de barbearia. Esse curso, no geral, é para jovens e uma oportunidade para que tenham uma profissão.

Também estamos montando um curso de manicure e tenho o sonho de preparar em nossos escritórios um curso de inglês, focado desde a alfabetização das crianças, somando nove módulos.

Em meu mandato procuro cuidar dos excluídos. Quem são eles? São os portadores de deficiência, os idosos, pessoas que não conseguem atendimento. Tem uma frase de Madre Teresa de Calcutá que fala “O que eu faço é uma gota no meio de um oceano, mas sem ela, o oceano será menor”. É isso. Se eu for essa gota, sei que estou fazendo a minha parte.

Como o sr. analisa a atuação da Câmara?

Digo que não consegui cumprir todas as metas que tinha quando ganhei a eleição. Quando a gente ganha a eleição chega com mil projetos na cabeça, mas quando está dentro vê que é muito mais complicado do que parece. Somos em 21 vereadores e legisladores. Então, procuramos fazer leis, fiscalizar, porque como legislador você não pode executar. As pessoas procuram o vereador para tapar buracos, para reformar isso ou aquilo. Porém, esse não é o papel do vereador. Como temos boa tramitação no governo, conseguimos indicar, pedir. Fomos eleitos em um momento muito difícil. Por exemplo, a prefeitura trabalhou orçamento com a arrecadação de 2017, que foi a mesma de 2012. Trabalhamos quase três anos com isso. Então, não sobrou dinheiro para investimentos.

Não estou aqui defendendo o governo, mas dá para ver. Você tem hoje a Lei de Responsabilidade Fiscal que obriga a manter em um determinado patamar a folha de pagamento, mas todo ano tem reajuste dos salários. Isso não dá para fazer, porque ao passo que você tem uma arrecadação que se mantém ou diminui, a folha de pagamento aumenta todo ano. Então, de 2013 para cá passamos anos muito difíceis.

Quando fui eleito eu queria ver asfalto em toda a cidade, queria ver UBSs (Unidades Básicas de Saúde) funcionando plenamente em todos os bairros. Você pensa que quando se eleger vai resolver todos os problemas, mas quando se elege termina não conseguindo. Você vai lá, luta, briga e se frustra. Infelizmente, falando por mim, 30% do que gostaria de fazer eu consegui. Quem sabe em um próximo mandato eu consiga mais 30%.

Quais considerações faz sobre o governo Lauro Michels (PV)?

Vou ser bem claro, o governo, no primeiro mandato, tinha um pouco mais de folga e conseguiu resolver várias questões. Sem querer falar de governos anteriores ao prefeito Lauro, mas pegamos uma prefeitura complicada. Quando assumimos, a prefeitura tinha o dinheiro sequestrado. Como se governa desse jeito?

O Lauro, nos primeiros anos, conseguiu resolver isso. A questão da Saned (Companhia de Saneamento de Diadema), que era uma situação insustentável e com isso (a Sabesp assumiu o serviço de água e esgoto após negociação de dívida) conseguiu dinheiro para investimento.
Nossos parques, por exemplo, também estavam abandonados e foram reformados. Então, melhorou sim. Porém, parece que o prefeito só é bom quando deixa o mandato. O governo fez o possível. Manteve as contas do município sem gastos excessivos, sem endividamento. Então, este governo conseguiu, com o que tinha, fazer uma gestão bem feita.

Como o sr. vê o cenário político em Diadema e no ABC?

Nas últimas eleições havia a possibilidade de continuidade do governo do Lauro. Porém, com a finalização deste mandato, as pessoas começam a querer ocupar esse lugar e isso tem dificultado muito para quem é base do governo. Então, tudo vai ser baseado na questão de pesquisas, de nome. A oposição (PT) vem de muito desgaste e precisa se recompor.

No ABC se sabe dos prefeituráveis quem têm uma situação mais clara, que são os de São Bernardo e Santo André. Por exemplo, Alex Manente (Cidadania), que sempre disputa a Prefeitura de São Bernardo, este ano não vai concorrer. Então lá, praticamente a eleição estará focada no Orlando Morando (atual prefeito/PSDB) e Luiz Marinho (PT). Já em Diadema pode ter uma eleição com dois polos bem definidos, ou uma eleição que trará surpresas. Prefiro dois polos.

No meio politico, infelizmente, às vezes você deita candidato a prefeito e acorda sem partido. É do ser humano, mais ainda em política, a questão do interesse individual se sobrepor, com isso perde a população e a cidade.

Como o sr. analisa o governo João Doria (PSDB)?

Admirava o João Doria por sua trajetória, mas acho que na questão política e ética pessoal deixou a desejar. Boa parte dos políticos se desvaloriza quando fala uma coisa aqui e faz outra lá na frente. Doria foi eleito prefeito, disse que ia terminar o mandato e pulou para governador. Para governador, a campanha era Bolsodoria e agora só critica o presidente. O Bolsonaro serviu para o Doria até a eleição. Então, para mim, perdeu o respeito. Porém, uma hora a conta chega para você pagar.

Quanto ao governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido)…

Não minto, votei no Bolsonaro. Acho que as ideias que ele defende, como a família, eu respeito. Vejo nele, como os milhões que votaram nele, o respeito pelas instituições. Creio que fará um bom mandato, mas acho que deveria ser mudo. Ele e os três filhos dele. O maior problema do Bolsonaro, durante um bom tempo, não foi a oposição, mas sim, seus filhos.

Sou de um tempo que se respeitava o professor, os pais, a família. Minha mãe nordestina, lá em casa, a Vara da Infância e da Juventude era vara mesmo e não morri. Hoje tem toda a tecnologia, internet, redes sociais, mas não são os outros que devem criar nossos filhos. A escola vai dar futuro, conhecimento, mas o princípio moral, quem dá, é a família, dentro de casa, e o Bolsonaro defende isso.

Porém, o Bolsonaro tem de entender que quando dá uma entrevista fala como presidente do país. Aí, tem de saber o que vai falar. Ter discernimento, e isso ele não tem.

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