
A Polícia Civil de São Paulo e o Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público de São Paulo (MP-SP) realizaram ontem (15) operação para investigar supostas fraudes em contrato de R$ 3,3 milhões celebrado pela Prefeitura de Mauá para a administração do hospital de campanha da cidade, inaugurado no final de abril. Entre os alvos dos mandados de busca e apreensão estão o prefeito Atila Jacomussi (PSB) e o secretário municipal de Saúde, Luis Casarin.
O MP-SP vê indícios de crimes previstos na lei de licitações, de falsidade ideológica e lavagem de dinheiro, entre outros, na contratação emergencial pela prefeitura da organização social Atlantic Transparência e Apoio à Saúde Pública, para gestão e operacionalização do hospital erguido no município para receber pacientes de covid-19.
Agentes cumpriram mandados de busca na residência de Jacomussi e na Prefeitura de Mauá. Na casa do chefe do Paço foram apreendidos um celular, um tablet e um computador.
Policiais e promotores também estiveram na casa e no gabinete de Casarin, no setor de licitações da prefeitura e em endereços ligados à organização social Atlantic e à empresa Ocean Serviços Médicos.
Os mandados de busca e apreensão foram expedidos pelo desembargador Marcelo Gordo, da 13ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo. Além de Jacomussi e Casarin foram alvos da operação a presidente da Atlantic, Jéssica Alves Pontes Belo; e Gilberto Alves Pontes Belo, tio de Jéssica, que foi condenado em primeira instância por enriquecimento ilícito.
A investigação teve início em abril, com base em representação assinada pelos vereadores Adelto Cachorrão (Republicanos), Marcelo Oliveira (PT), Professor Betinho e Sinvaldo Carteiro (ambos do PSL), que integram a oposição ao prefeito na Câmara e contestaram o valor gasto em outro contrato, para erguer o hospital de campanha, comparando-o com o desembolsado pela Prefeitura de Santo André para construir equipamento semelhante na cidade vizinha.
Na representação, os oposicionistas alegam que a empresa Pilar Organizações e Festas foi contratada para a instalação de 30 leitos para pacientes com covid-19, pelo valor mensal de R$ 221.900, montante que corresponde ao custo de R$ 7.396,67 por leito. Porém, em Santo André foram gastos R$ 157.500 em estrutura para 120 leitos, ou R$ 1.312,50 por leito – diferença de 463%.
A portaria de instauração do inquérito apontava ainda que a organização social Atlantic tem sede no mesmo endereço (em Caieiras, na região metropolitana de São Paulo), de outra companhia, a Ocean Serviços Médicos, o que gera suspeita de que a administração da Atlantic seja feita por Gilberto Alves Ponte Belo, condenado em primeira instância.
A Promotoria indicou que a Atlantic tinha em seu quadro administrativo pessoas interpostas desvinculadas da área da saúde.
OUTRO LADO
Em nota, a Prefeitura informou que recebeu com indignação a notícia da ação do MP-SP. “O processo, que deu origem à ação, foi remetido ao MP em sua integralidade. Todas as informações foram esclarecidas e há conversas diárias por videoconferência com os promotores. Entendemos como excessiva e desnecessária a iniciativa. Estamos tranquilos em relação ao desenrolar dos fatos e certos de que demonstraremos, nos autos, a lisura do processo. Salientamos que Mauá está na vanguarda do combate ao coronavírus, notoriamente com ações eficientes e reconhecidas pela população”, diz o texto.
Em abril, quando da abertura do inquérito, a prefeitura informou à reportagem que havia equívoco no comparativo feito com o hospital erguido pela Prefeitura de Santo André, que teria fatiado a estrutura em vários contratos além do citado pelos vereadores.
DUAS PRISÕES
Jacomussi foi preso duas vezes em desdobramentos da operação Prato Feito, da Polícia Federal, que investigava desvio de verbas destinadas à compra de merenda escolar. O socialista chegou a ter o mandado cassado pela Câmara Municipal, mas retomou o cargo no Paço após decisão judicial.
Advogado de Jacomussi vê ‘caça às bruxas’ em ação do Ministério Público
O advogado Daniel Bialski, que defende o prefeito de Mauá, Átila Jacomussi (PSB), atribuiu a “uma verdadeira caça às bruxas” a operação da Polícia Civil e do MP-SP para investigar contrato celebrado pela prefeitura para a administração do hospital de campanha da cidade.
Em nota, Bialski afirmou que, pelas primeiras informações que recebeu, a ação teria como base em denúncia anônima. “Infelizmente, o prefeito vem sendo perseguido e nada obstante à lisura com que atua, em especial nessa época, procede-se uma verdadeira caça às bruxas, mesmo sem investigação prévia ou algo palpável para legitimar essa ação. Todas as contratações observaram critérios técnicos e preço”, diz.
Bialski destaca ainda que as compras e atos estão no portal da transparência e que o prefeito prestou esclarecimentos e enviou todos os documentos sempre que lhe foi solicitado. “A empresa contratada prestou o serviço com excelência e não há qualquer indício de irregularidade. A defesa vai pedir vista dos autos e estudar as medidas a serem tomadas para elidir essa busca, que considera desnecessária e até excessiva.”