
No mês em que se comemora o Dia Internacional da Mulher (8), o Diário Regional conversou com a vereadora de São Bernardo Ana Nice (PT), que falou sobre a participação feminina na política e sobre a cota de gênero nas eleições. Confira os principais trechos da entrevista.
Qual análise faz de seu mandato?
O nosso mandato é de muita luta. Luta no sentido político, da disputa, de uma oposição consciente, um mandato que está constantemente na rua e em defesa daqueles que mais necessitam ser ouvidos: a nossa população esquecida por este governo do PSDB.
Na Câmara Municipal somos minoria. O prefeito vende a imagem de uma cidade perfeita que só ele e seu governo acreditam. A população literalmente sente na pele o desmonte dos serviços públicos em áreas essenciais para a vida das pessoas: saúde, moradia, educação e transportes, por exemplo.
Como vê a baixa representatividade da mulher na política do ABC e em nível nacional?
A política ainda é predominantemente dominada por homens. O partido mais democrático nesse sentido é o PT. Há legendas que são comandadas por verdadeiros caciques. Isso sem falar no fato de a mulher ainda ter as obrigações de cuidar da casa e dos filhos, o que acaba comprometendo o número de mulher no Legislativo e Executivo.
A cota para participação das mulheres nas eleições é efetiva?
Apesar de a lei garantir a cota de 30% para mulheres na chapa, na prática, partidos acabam indicando por indicar candidatas femininas, sem condições reais de disputa nem preparo para o cargo. Acabam laçando uma mulher para cumprir a cota. Este é cenário.
A sra tem forte participação no movimento sindical. O que trouxe para seu mandato dessa vivência?
A minha garra, a defesa intransigente do trabalhador, a persistência por sermos sempre minoria. A disposição de estar sempre na rua ouvindo os moradores da cidade, tão desrespeitados por este atual governo.
Como analisa o cenário político no município e no ABC?
Estamos entrando em novo processo eleitoral e o munícipe vai fazer valer o seu direito, que é o voto. Não adianta tentar vender o marketing de um mundo perfeito quando as pessoas pagam uma das passagens mais caras do Brasil; quando ficam três, quatro, cinco, seis, nove horas em uma UPA à espera de atendimento médico.
Acredito que diminuiu o ódio disseminado contra o nosso partido, o PT, como estratégia para eleger políticos autoritários, de direita, que não respeitam as pessoas e retiram direitos dos trabalhadores (…) Esse presidente da República é irresponsável e está levando o nosso país ao caos político e econômico. Bolsonaro precisa ser interditado: a última dele foi colocar um humorista para comentar a queda do Produto Interno Bruto. É um inconsequente.
Acredita novamente em polarização nas eleições do município?
Ao que tudo indica, a disputa deve ficar entre Luiz Marinho e Orlando Morando. Isso se o tucano conseguir ser candidato (…) Mais ainda há muito tempo para a movimentação de outros nomes, que ainda não se definiram.
Como analisa a pré-candidatura do ex-prefeito Luiz Marinho?
Posso falar com conhecimento de causa: o sentimento geral em São Bernardo é pelo “Volta Marinho, precisamos de você. Você foi o melhor prefeito que São Bernardo já teve”. É isso que o povo diz para o ex-prefeito. Eu e o companheiro Marinho temos andado muito pelas ruas de cidade. O carinho e a gratidão da população mais pobre por Luiz Marinho são imensos. É a saudade de um tempo em que o povo era ouvido, que o prefeito olhava para a periferia, que havia planejamento.
Que projeção faz quanto à participação do PT nas eleições do ABC?
Acredito sinceramente que vamos retomar o comando das prefeituras de São Bernardo, com Luiz Marinho; de Diadema, com José de Filippi; de Santo André, com a companheira Bete Siraque; e de Mauá, onde teremos uma chapa forte com Marcelo Oliveira e o ex-prefeito Oswaldo Dias como vice.
Qual é sua avaliação dos primeiros anos de governo Doria e Bolsonaro?
Bolsonaro não tem a menor condição de tirar o Brasil desta grave crise econômica. Temos cerca de 15 milhões de trabalhadores desempregado, isso sem falar dos milhões que desistiram de procurar emprego porque não encontram. As perspectivas são sombrias.
Quais projetos de sua autoria destaca?
Destaco a Lei 6.634, que define série de ações para a política de enfrentamento à violência contras as mulheres. Como somos oposição ao prefeito, nossa vida no Legislativo é dura. O regimento interno da Câmara favorece a base aliada (…) Todo esse boicote apenas nos dá mais energia para continuar a nossa luta
Quais os planos para o futuro?
O nosso objetivo este ano é devolver a cidade de São Bernardo para o nosso povo. Vou trabalhar pela eleição do companheiro Luiz Marinho como prefeito e disputarei, se Deus assim o permitir, a reeleição como vereadora. Ou seja, será mais um ano de muito trabalho pela frente. Estou bastante animada com estes desafios.