
A ameaça da General Motors de deixar o Brasil caso não volte a ter lucro deixou apreensivos os trabalhadores da fábrica de São Caetano a acendeu o sinal de alerta entre funcionários de outra montadora da região.
O Sindicato dos Metalúrgicos do ABC realiza hoje (22), a partir das 7h, ato em frente à fábrica da Ford, em São Bernardo, para cobrar investimentos na planta do ABC.
O protesto ocorre no mesmo dia em que o presidente da General Motors Mercosul, Carlos Zarlenga, deve explicar aos representantes de trabalhadores das fábricas de São Caetano e São José dos Campos que tipo de “sacrifício” espera dos funcionários para evitar suspensão de investimentos ou até mesmo fechamento de unidades no país.
O encontro será realizado no Vale do Paraíba, às 11h, e terá as presenças dos prefeitos de São Caetano e de São José dos Campos, José Auricchio Jr. e Felício Ramuth, respectivamente, ambos do PSDB.
Atualmente, a fábrica da Ford produz apenas o hatch Fiesta, que teve somente 16 mil unidades vendidas no ano passado, além de caminhões. Os sindicalistas sabem que uma fábrica dificilmente se sustenta com um só produto.
Os trabalhadores da Ford têm estabilidade até novembro deste ano, garantida pelo acordo coletivo assinado em abril de 2018. A expectativa era de que, no período de vigência do acordo, as partes discutissem o futuro da planta, com planejamento de novos investimentos. Segundo Alexandre Colombo, diretor executivo do sindicato e trabalhador da Ford, a montadora chegou a iniciar estudos para vinda de novo projeto, mas não houve continuidade.
“Sabemos que as discussões são longas, que os processos de negociação com as montadoras são trabalhosos. Não podemos deixar para discutir investimentos no segundo semestre, próximo do término de validade do acordo”, alertou o presidente do sindicato, Wagner Santana, o Wagnão.
Paulo Cardamone, presidente da consultoria Bright, lembrou que Ford e GM passam por forte reestruturação em suas matrizes nos EUA, com fechamento de fábricas, redução de pessoal e suspensão da produção de vários modelos.
“Era de se esperar que essas reestruturações chegassem ao Brasil, mas não acredito que ambas deixem o país”, disse Cardamone. “Talvez até possam reduzir o número de fábricas, mas não vão sair no momento em que o mercado se recupera, sobretudo depois do sufoco que passaram nos últimos anos.”
Nota conjunta divulgada ontem pelos sindicatos de metalúrgicos de São Caetano e do ABC, pelas confederações nacionais de metalúrgicos da Força Sindical e da Central Única dos Trabalhadores (CUT), e pela central CSP/Conlutas alega contradições no comunicado divulgado pela General Motors.
O documento reproduziu matéria publicada pelo jornal Detroit News, sobre recente declaração da presidente mundial da GM, Mary Barra, em que ela deu sinais de que a empresa considera sair da América do Sul. “Não vamos continuar investindo para perder dinheiro”, disse.
“(O documento) se contradiz com a realidade, visto que a GM anunciou lucro global superior a US$ 2,5 bilhões, o equivalente a R$ 10 bilhões, no último trimestre, e é líder de vendas na região”, diz a nota.
“Acontece que a empresa aproveita o momento para fazer forte reestruturação, com demissões e fechamento de plantas, como algumas já anunciadas nos EUA e Canadá. Os trabalhadores não podem mais uma vez ‘pagar o pato’”, prossegue o texto.
“Repudiamos essa possibilidade de paralisação da produção no Brasil e na América Latina, e também que nos seja exigido mais sacrifícios, como diz o comunicado, já que foram feitas várias concessões à GM e a empresa sempre quer mais.”