LUIZ HUMBERTO MONTEIRO PEREIRA
AutoMotrix
A eletrificação é a realidade inexorável da indústria automotiva global, e os híbridos e elétricos dominam a pauta mundial de lançamentos. Curiosamente, o primeiro automóvel 100% elétrico a ser oferecido em larga escala no mundo é até hoje o elétrico mais vendido do planeta: o Nissan Leaf. Lançado em 2010 e com a segunda geração apresentada em 2017, o modelo já teve mais de 500 mil unidades comercializadas em mais de 50 países.
Na primeira geração, o Leaf chegou a circular em frotas de táxis no Rio de Janeiro e em São Paulo, sem oferta para o público. Há dois anos, a segunda geração do hatch importado da Inglaterra passou a ser vendida no Brasil. Atualmente, é oferecido em versão única por R$ 277.900. O valor inclui cabo de recarga e adaptador para plug do tipo 2 – o mais usado em modelos elétricos e híbridos plug-in vendidos por aqui.
Nesses dois anos, o Leaf teve emplacadas quase 200 unidades no Brasil. Foi oferecido em apenas sete concessionárias nas capitais do Rio, de São Paulo (duas), Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul e Distrito Federal.
Agora ficará mais fácil ver o elétrico da Nissan nas ruas das grandes cidades brasileiras. A partir de setembro, a venda do Leaf será expandida das atuais sete revendas para o total de 44 concessionárias em 34 cidades espalhadas pelas cinco regiões do país. O elétrico passará a ser comercializado também no Amapá, Amazonas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Mato Grosso, Minas Gerais, Goiás, Pará e Pernambuco. Todas as concessionárias habilitadas a vender o elétrico da Nissan contarão com pontos de recarga. Além disso, o Leaf estará em locadoras de automóveis e será um dos modelos oferecidos pelo novo aplicativo de compartilhamento de carros elétricos a ser lançado pelo Itaú. Assim como ocorre com o sistema de aluguel de bicicletas do banco, a proposta do Veículo Elétrico Compartilhado (VEC) Itaú é que os usuários façam toda a transação de liberação do carro por meio de aplicativo para celular e devolvam em qualquer bases do sistema. O programa está em testes e deve ser disponibilizado para o público até o final do ano.
O Leaf se assemelha a um hatch médio convencional, com linhas que evidenciam a preocupação aerodinâmica. Sua ampla distância de entre-eixos de 2,70 metros ajuda a armazenar no assoalho os 24 módulos da bateria de íons de lítio, pesando ao todo 300 kg. Os faróis em formato de bumerangue com luzes diurnas em LED e a grade frontal V-motion, atualmente onipresentes nos automóveis da Nissan, estrearam no Leaf. O tom azul no fundo da grade frontal e na moldura do para-choque traseiro também tornou-se recorrente na família de veículos elétricos da marca. Igualmente apresentado no Leaf e incorporado aos novos Versa e Kicks, o Nissan Intelligent Safety Shield – algo como “escudo inteligente de segurança” – inclui Alerta Inteligente de Mudança de Faixa, Sistema Inteligente de Prevenção de Mudança de Faixa, Assistente Inteligente de Frenagem de Emergência, Controle de Velocidade, Sistema de Advertência de Ponto Cego, Alerta de Atenção do Motorista, Monitoramento de Pressão dos Pneus e Alerta de Tráfego Cruzado Traseiro.
O elétrico traz ainda controles de tração e estabilidade, sistema de partida em rampa, controles inteligentes de freios, seis airbags e multimídia A-IVI com tela colorida sensível ao toque. A visualização do entorno do veículo pelas quatro câmeras que formam a Visão 360 Graus na tela do multimídia é outra “herança” do Leaf agregada às versões top de linha dos novos Versa e Kicks.
Uma tecnologia singular do Leaf é o e-Pedal, que permite ao motorista, ao acionar uma tecla no painel, passar a utilizar somente o pedal da direita para acelerar, desacelerar e parar o carro. Para acelerar, basta pisar no pedal. Soltando gradualmente o acelerador, o carro para suavemente, sem necessidade de pressionar o pedal do freio. Além de recuperar energia para a bateria, o e-Pedal permite a redução do uso do freio convencional em até 80%, o que representa menos desgaste e custo de manutenção.
Controle da tensão
Segundo a Nissan, o conjunto de baterias de íons de lítio de 40 kWh do Leaf oferece autonomia de 272 km no ciclo americano EPA (Environmental Protection Agency), composto aproximadamente por 50% em tráfego urbano e 50% em estrada. Para quem não mora em uma casa e não tem a possibilidade de carregar o carro durante a noite, já que apenas os mais modernos e sofisticados edifícios brasileiros oferecem sistemas de carregamento, a possibilidade de ficar sem energia no meio do caminho gera certa preocupação. Fazer viagens mais longas com um elétrico requer planejamento, já que o tempo de recarga é longo e as possibilidades de recarregar no caminho podem ser raras.
Em tomadas aterradas de 110V e 220V, com o cabo que acompanha o veículo, o carregamento completo da bateria do Leaf demora cerca de 20 horas. No wall box, que é vendido à parte e pode ser instalado na casa do proprietário, o processo leva cerca de oito horas. Em postos de carregamento rápido (50 kWh), ainda raros no Brasil, a carga total pode feita em menos de uma hora. Porém, reabastecer apenas em postos de carga rápida pode sobrecarregar a bateria e diminuir sua vida útil. Em trajetos rodoviários, nos quais o recurso de regeneração de energia se torna menos eficiente, a autonomia cai mais rápido. Nas descidas de serra, o modo “B” segura o carro como se estivesse engrenado e aumenta a regeneração.
O torque máximo de 32,6 kgfm está 90% disponível em apenas um décimo de segundo, algo que se traduz em respostas sempre espertas ao acelerador. Nas saídas de semáforo é fácil arrancar mais rápido do que nos modelos com motor a combustão. Acima dos 100 km/h, o elétrico com potência equivalente a 149 cv (110 kW) passa a disponibilizar retomadas de velocidade mais comedidas – comportamento comum nos veículos elétricos. A velocidade máxima, segundo a Nissan, é de 144 km/h. As baterias instaladas no assoalho favorecem o baixo centro de gravidade, o que contribui para a boa estabilidade.
Os três modos de condução podem ser selecionados em uma alavanca no console. O “D” é o modo de operação normal, com a potência máxima do motor. O “Eco” limita o desempenho e ajuda a economizar energia, e o “B” usa frenagem regenerativa mais potente, para recarregar com mais eficiência a bateria, sem comprometer a potência. Ao acionar a tecla do e-Pedal, o motorista pode usar somente o acelerador para avançar, desacelerar e parar o carro. Soltando lentamente esse pedal, o carro para de forma gradual e suave, sem necessidade de usar o freio. Ao soltar o pedal rapidamente, a frenagem é imediata e a luz do freio é acionada automaticamente – se houver necessidade de frenagem de emergência, o pedal de freio funciona normalmente. Eliminando a necessidade de mover o pé do acelerador ao de freio para reduzir a velocidade ou parar o veículo, o e-Pedal diminui bastante o estresse ao dirigir.
A BORDO
O interior do Leaf de segunda geração apresenta o painel frontal com forma de “asa planadora” (Gliding Wing). O recurso estilístico se expandiu para outros modelos da marca e, o que era inovador em 2017, parece agora um tanto déjà vu. Detalhes em azul claro aparecem nos pespontos dos bancos, do painel e do volante. O display colorido de oito polegadas dá acesso às principais funções, como o indicador de energia disponível e informações sobre o sistema de GPS. Como é comum nos elétricos, os grafismos dos mostradores do consumo energético “sugestionam” o motorista a dirigir de forma econômica e poupar as baterias.
Em termos de espaço interno, o Leaf se equivale a um hatch médio convencional. No banco traseiro, dois passageiros viajam bem – o alto túnel central não recomenda a presença de um terceiro adulto. A central multimídia A-IVI tem tela colorida sensível ao toque de oito polegadas, que permite o uso de aplicativos como Waze, Spotify, Google Maps, WhatsApp, Apple CarPlay e Android Auto. Com o Door-To-Door instalado em um smartphone, pode-se inserir um destino no GPS antes mesmo de se entrar no veículo. Quando o motorista senta em seu banco, telefone e central sincronizam e traçam automaticamente a rota.