
A Águia de Ouro conquistou nesta terça-feira (25) seu primeiro título do carnaval paulistano, com 269,9 pontos e um dos enredos mais politizados dos dois dias de desfile no Anhembi. A disputa foi acirrada até as últimas notas. A escola levou à avenida enredo que abordava consequências do conhecimento, desde a invenção do avião à explosão da bomba atômica em Hiroshima e Nagasaki, em 1945. Também fez referência a Paulo Freire, educador criticado pelo governo Jair Bolsonaro, em alegoria.
A escola da zona oeste da Capital estava entre as primeiras desde o início da apuração, mas só assumiu a liderança na penúltima categoria. “Vai ter um mês de festa da Pompeia”, celebrou o mestre Juca, da Águia de Ouro. “É o resultado de muito trabalho e agora é comemorar.”
A escola mesclou carros tradicionais como quatro dinossauros mecânicos operados manualmente. Também teve carros mais modernos e com telões, em menor número. Em outro carro foi escrita uma frase de Paulo Freire: “Não se pode falar de educação sem amor”.
No segundo lugar ficou a campeã de 2019, a Mancha Verde. A Mocidade Alegre ficou com o terceiro posto. Pérola Negra e X-9 Paulistana (que perdeu 0,5 ponto por um carro quebrado) foram rebaixadas.
A grande decepção foi a Gaviões da Fiel, que teve a estreia do carnavalesco Paulo Barros em São Paulo. Após morna recepção na avenida, o desfile não foi bem avaliado pelos julgadores. A escola, que comemora 50 anos em 2020, esteve perto de ser rebaixada até o penúltimo quesito e terminou no 11º posto, entre 14 escolas. Desde a metade da apuração, era possível ver o desalento dos integrantes da agremiação.
SUPERAÇÃO
O grito de “É campeão” da Águia de Ouro estava engasgado há 44 anos. Inédita, a vitória não fica devendo a nenhum roteiro de herói. Conhecida por ser “vanguardista” e ter desfilado temas como fome, pedofilia e maus-tratos aos animais, a Águia havia disputado o grupo de acesso – a segunda divisão do carnaval – em 2018. Neste ano, também teve “perrengue”. Parte das fantasias, por exemplo, atrasou e o acabamento foi feito instantes antes de entrar no sambódromo.
O episódio mais impactante, no entanto, foi a morte do diretor de alegoria Du Molinari uma semana antes do desfile. “Essa vitória é uma homenagem a ele”, afirmou Pedro Emilio, um dos coordenadores da escola. “O diferencial deste ano foi ter entrado só com a rapaziada da comunidade. A gente virou noite preparando tudo.”
Foi justamente no quesito Alegoria, o penúltimo divulgado, que a Águia assumiu a dianteira da disputa. Foram três 10 – o suficiente para ultrapassar a Acadêmicos do Tatuapé, então no primeiro lugar na disputa.
Desfilando pela escola há 16 anos, Suzana Furlan, de 54, se emocionou durante a festa. “Foi muito amor e muita garra no Anhembi”, disse. “A escola é muito família: trago meu neto, meu marido, meu filho, minha nora”, disse a amiga Helena Boeno, de 57 anos. Helena disse que terminou de fazer o acabamento da fantasia na concentração do sambódromo. “Nunca tinha sido essa correria… A gente usou cola quente para ajeitar os adereços, todo mundo unido”, relatou. “Ganhar é uma sensação maravilhosa. É indescritível.”
RECOMEÇO
A tradicional Vai-Vai, que teve inédito rebaixamento no ano passado, voltou à elite e foi eleita campeã do Grupo de Acesso. “A fase de sofrimento acabou”, celebrou Clarício Gonçalves, um dos dirigentes da escola da Bela Vista. “Pegamos a energia negativa e transformamos nesse resultado”, completou. A Acadêmicos do Tucuruvi também voltou à primeira divisão.